Opinião: o Afeganistão é aqui…

Foto: reprodução

Ontem me despedi de um casal de amigos querido que desistiu do Brasil. Jovens, com mais ou menos 30 anos, formação acadêmica acima da média nacional, domínio de idioma estrangeiro e muita garra para trabalhar. Conheço-os desde a graduação. Desde então, fazem malabarismo para se dividirem entre dois empregos: “Estamos indo porque lá vamos conseguir efetivar uma carreira profissional e viver em um país estável”.

Por essas ironias do destino, partem no dia sete de setembro. A viagem não aconteceu antes porque só agora o país de destino abriu as fronteiras para brasileiros. Durante o jantar, entre uma lembrança e outra, conversamos sobre o risco de golpe e tumultos propagados por Jair Messias Bolsonaro e seus asseclas no dia da nossa independência. Meus amigos temem que sejam impedidos de chegar ao aeroporto por alguma falange bolsonarista.

A partida dos meus amigos, apesar de ser um drama pessoal, não é um fato isolado. Segundo dados da Receita Federal, o número de pessoas que optaram por deixar o Brasil e se mudar definitivamente para o exterior cresceu 125% desde 2014. Se considerarmos só o pedido de vistos de brasileiros para os EUA, esse número cresceu 40% só no governo Bolsonaro.  O perfil é muito parecido com o dos meus amigos: mestres, doutores, médicos, empresários, executivos de empresas e profissionais de tecnologia.

No retorno para a casa, parei no semáforo em frente à Prefeitura Municipal de Blumenau, local onde os apoiadores do presidente costumam se reunir para pedir o retorno da ditadura militar, do voto impresso e fechamento dos poderes. Dizem eles que não querem que o Brasil vire uma Venezuela ou um Afeganistão. Talvez também devessem incorporar o lema “”Brasil: Ame-o ou deixe-o!” No mesmo semáforo, equilibrava-se entre os carros um senhor, que aparentava uns 50 anos, segurando uma placa em que estava escrito: “tenho dois filhos preciso levar comida pra casa, aceito trabalho”.

Neste mesmo período de crescimento de exilados no governo Guedes/Bolsonaro, a fome voltou a rondar os pratos dos brasileiros. Segundo pesquisa da Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan) 55,2% dos lares brasileiros convivem hoje com alguma insegurança alimentar – um nome bonito inventado por sociólogo para falar de fome.

No mesmo lugar onde aquele senhor estava, há dois anos tinha um casal de venezuelanos com uma placa muito parecida. Hoje pela manhã, em Brasília, no cercadinho falando para seus apoiadores, Bolsonaro afirmou que cada brasileiro tem que comprar um fuzil, chamou de idiota quem reclama que quer comprar feijão.  Parafraseado Caetano Veloso: “Pense no Afeganistão, Reze pelo Afeganistão, O Afeganistão é aqui”.

3 Comentário

  1. Todos os esquerdistas deveriam fazer o mesmo , façam as malas e partam , nao sentiremos falta .Jamais seremos uma Venezuela ….O Afeganistao nao e aqui e jamai sera .

  2. A culpada é a esquerda brasileira que investiu lá fora em detrimento do próprio país.
    Até o Humberto Costa sabe disso!

  3. Ótimo texto. A crise econômica já atinge vários setores da indústria e do agronegócio e muita gente continua sem a coragem de admitir que errou no voto. Se não for por solidariedade com quem passa fome, que se dessem conta do problema com a própria perda de poder econômico.. Errar não é vergonha. Vergonhoso é insistir no erro.

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