Opinião: ruídos, movimentos e fatos

Imagem: Neil de Boer/Reprodução

“Navegar é preciso, viver não é preciso”!

Soltando as amarras deste barco e refletindo a respeito dos dias que se foram, curvo diante do momento para complexidade da vida. Nem a poesia de Fernando Pessoa, ou carta do General Pompeu, ajudam a encontrar a clareza que o tempo pede para desvendar a mensagem do que é proclamada em cada esquina. Se o criador existe e é um viajante, largou para nós este momento, como recado, dentro de uma garrafa atirada ao mar.

Existem certos episódios na vida que acontece aquela “coisa”, rompe o silêncio, bagunça as idéias e a clareza na mente é uma só: estamos vivendo algo que marcará para sempre a história nossa e de toda humanidade. Assim como não dá para antecipar, prever a ocorrência, também não é possível esquece-las. O 11 de setembro de 2001 foi um destes casos.

Quando as aeronaves colidiram com as Torres Gêmeas por algum motivo minha cabeça capturou exatamente tudo. Sempre que lembro deste dia é como se estivesse fora do corpo, observando aquelas horas. Revivendo cada cena. Recordo como eu recebi a notícia, do uniforme da escola que vestia, do molho que sujou a camiseta branca no almoço, da atenção entre a TV e o macarrão. Lembro de Bush discursando… tudo! É possível ver cada detalhe da casa de madeira que morávamos naquela ocasião.

As vezes questiono em que parte da história perdemos o rumo, o juízo, a capacidade empática com a vida. Não era ruído, não existiam exageros de morte. Tragédias eram tragédias! Um garotinho ou duas torres derrubadas eram tristes vidas perdias. E ficávamos chocados com 2996 adeus.

O assombro está na insensível banalidade que tornou comum quase 600 mil mortes. Amigos se foram, gritamos. Ecoam como respostas zumbis em movimentos nas ruas, quase que zombando, dizendo “e daí?”.

Em 2012 estive em um dos memoriais do 11 de setembro. Este da foto é o Eleven Tears, uma homenagem da American Express (o primeiro avião atingiu exatamente os andares que sediavam a empresa) aos funcionários mortos no atentado, incluindo os brasileiros que trabalhavam no local. O quartzo gigante, enviado pelo Brasil, é banhado por “lagrimas” que caem do teto e representam aqueles que se foram. O local é de uma energia de arrepiar, como se pudesse sentir a dor da saudade.

Nesta vida, imprecisa, navegar é preciso…. como escreveu F. Scott Fitzgerald: “não sabia que aquele sonho já ficara para trás, em algum momento do passado naquela vasta escuridão além da cidade, onde os campos sombrios da república se estendiam sob a noite. Acreditava na luz verde, no futuro orgástico que ano a ano retrocede diante de nós. Esse futuro escapou antes, mas não importa — amanhã vamos correr mais rápido, estender nossos braços mais longe… E numa bela manhã…

E assim continuamos, barcos contra a corrente, impelidos incessantemente rumo ao passado”.

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