No terceiro maior movimento estratégico em uma década de atuação no Brasil, a Kraft Heinz acaba de anunciar a aquisição da catarinense Hemmer, uma fabricante de molhos, condimentos e conservas conhecida pelos ketchups e mostardas.
O negócio é uma mais etapa do plano de Miguel Patrício — o CEO global — para crescer fora dos Estados Unidos, onde a indústria de alimentos controlada por 3G Capital e Warren Buffett ainda faz 80% das vendas.
Os números da aquisição não foram divulgados — o impacto financeiro é marginal para um conglomerado com US$ 26 bilhões em faturamento —, mas a Hemmer representará um salto importante para a Kraft Heinz no Brasil.
A considerar os últimos balanços divulgados, a centenária companhia fundada em 1915 pelo imigrante alemão Heinrich Hemmer, um empresário que começou vendendo chucrute em Blumenau, fatura o equivalente a um quarto das vendas da Kraft Heinz no Brasil.
Juntas, Kraft Heinz e Hemmer alcançam uma receita líquida de quase R$ 1,8 bilhão — tomando por base os dados do ano passado, quando os catarinenses reportaram R$ 374,4 milhões em vendas.
No Brasil, a aquisição dará à Kraft Heinz uma marca para competir com preços intermediários em ketchups, mostardas e maioneses. “A Hemmer ocupa um espaço mainstream onde a gente não jogava”, disse Fernando Rosa, presidente companhia no Brasil no fim do ano passado, ao Pipeline.
A Kraft Heinz já liderava o mercado nacional em ketchup, mas só atuava nas duas pontas, com a marca premium Heinz e a marca de combate Quero. “A Hemmer tem um papel regional e uma participação relevante”, disse o executivo, sem abrir o market share.
A transação, apenas a segunda da história da companhia no país — a primeira foi a Quero, um negócio de R$ 1 bilhão que marcou a chegada da Heinz no Brasil em 2011 —, pode significar apenas o início de um processo mais amplo.
“Não estamos fechando a agenda. Temos uma estratégia muito clara para ser uma das maiores empresas de alimentos do país, e isso vai acontecer orgânica e inorganicamente”, frisou.
Para a operação brasileira, a Hemmer pode ser encarada como o terceiro maior movimento da multinacional. Além da compra da Quero, feita quando a Heinz ainda não era controlada pela 3G Capital — o grupo brasileiro comprou a icônica firma americana em 2013 e a uniu à Kraft dois anos depois —, a Kraft Heinz teve uma segunda fase de expansão relevante em terras brasileiras quando investiu mais de R$ 600 milhões para erguer uma fábrica na goiana Nerópolis, ampliar a unidade herdada da Quero no mesmo município e reforçar a distribuição.
Num sinal de que os tempos na Kraft Heinz são mesmo outros — com mais foco em inovação e talvez menos intransigentes com o corte de custos que fez a fama do trio Jorge Paulo Lemann, Beto Sicupira e Marcel Telles —, Rosa fez questão de ressaltar que não há qualquer plano de demissões.
“Vamos manter as unidades de negócios operacionalmente separadas. Não temos nenhum interesse de sinergia em pessoas”. Quando assumir a Hemmer — a aquisição precisa da aprovação do Cade, o que deve levar de quatro a seis meses —, a Kraft Heinz incorporará cerca de 1,2 mil funcionários, fazendo o grupo chegar a mais de 3 mil no país.
Por outro lado, as sinergias de distribuição são mais óbvias e desejadas, o que pode dar à marca de origem catarinense uma penetração muito além do Sul e São Paulo, onde as vendas estão concentradas atualmente. “Estamos vendo uma oportunidade de levar a marca Hemmer através da nossa plataforma de distribuição para todo o Brasil”.
Globalmente, a compra da Hemmer também pode ser encarada como uma evolução na reestruturação conduzida por Miguel Patricio, que levantou mais de US$ 6 bilhões com a venda de ativos no ano passado (o negócios de queijos para a Lactalis e a divisão de snacks à Hormel) para reduzir as dívidas e recolocar a companhia na trilho do crescimento.
Na aquisição, o Rothschild & Co atuou como assessor financeiro exclusivo da Kraft Heinz e o Madrona Law como assessor jurídico. A Kraft Heinz está avaliada em US$ 44 bilhões.
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