Há alguns dias uma fala do ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas, vem repercutindo mal entre os caminhoneiros. O ministro disse em um evento que os motoristas precisam se organizar e “desmamar do governo”, pois se não começariam a ter dificuldades para sobreviver. Ele ainda acrescentou que os caminhoneiros autônomos precisam começar a se comportar como empresários, pois o aumento e a valorização do frete não é uma responsabilidade do Ministério. Caso contrário, eles deveriam trabalhar em empresas.
Vale refrescar a memória que a greve de 2018 tinha na pauta a baixa do preço do diesel, a volta da aposentadoria especial para a classe e o piso mínimo do frete. Desde então, as reivindicações continuaram, principalmente no que diz respeito ao valor do diesel, que só esse ano já teve 12 reajustes no preço.
Recentemente o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) anunciou uma proposta que prevê subsídio de R$ 400 para os autonômos. O benefício começaria a ser pago em dezembro de 2021 e seguiria até dezembro de 2022. A tentativa é pra compensar a disparada dos preços dos combustíveis. O valor, contudo, não é o suficiente para cobrir nem metade dos gastos da classe, segundo diversos líderes de associações.
Realidade em números
Os números do Registro Nacional de Transportador Rodoviário de Cargas (RNTRC) mostram que existem no Brasil 695.593 autônomos registrados. A pesquisa foi além e comprovou que entre as empresas, a idade média da frota registrada é de dez anos. Já entre os caminhoneiros autônomos, a idade média salta para 20 anos. O estudo mostra como os caminhoneiros brasileiros têm dificuldade de acesso ao crédito para trocar de caminhão.
Vamos trazer isso mais para a nossa realidade aqui do estado – e aqui vamos nos atentar apenas para o gasto com o caminhão de um autonômo, já que o veículo é a principal ferramenta de trabalho dele. Vou pegar o exemplo do meu pai que é caminhoneiro há mais de 30 anos e autonômo há dez. Parcela do caminhão, seguro, pedágio, rastreador (exigido praticamente por todos os embarcadores), manutenção e revisão mensal, alimentação e, claro, o diesel. Temos aqui uma média de gastos totais de R$ 35,800 mil por mês. Sejamos francos, é ou não é pagar para trabalhar?
De quem é a culpa?
É estranho e chega a ser bizarro ouvir as falas do ministro – que acredita conhecer a realidade da categoria. A verdade é que o Governo Federal não conhece, não respeita e nem valoriza os caminhoneiros, principalmente os menores. Usou esses trabalhadores apenas em benefício próprio e para cunho eleitoreiro. Compactuo aqui da mesma opinião do diretor da Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística (CNTTL) Carlos Alberto Litti Dahmer, que disse o seguinte: “O papel de estadista é exatamente outro. É dar condição para aquele que está morrendo se salvar e não encorajar o suicídio”. Finalizo com uma dúvida. Se em 2015 a alta do diesel era culpa da presidente Dilma (PT) e em 2018 do Temer (MDB), em 2021, de quem é a culpa?
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