Coluna: MATERNIDADE por SABRINA HOFFMANN jornalista e mãe
Hoje me deparei com uma folha em branco. Quando assumi a coluna por aqui pensei que nunca, em hipótese alguma isso iria acontecer. Até porque a maternidade, vish, tem um milhão de novidades todo santo dia. E é justamente aí que mora o perigo. Ser mãe ou pai é também estar num limbo em que a incerteza, a angústia e o medo pairam muito mais do que gostaríamos.
É ver na briga colossal com uma criança de três anos que quer usar apenas uma calça (ou legging, como ela insiste em gritar em alto e bom som) para o resto da vida, as certezas sobre educação irem pelo ralo.
É se perceber fazendo as mesmas coisas que condenava nos seus pais por simplesmente não ver outro caminho. É jogar o celular no Youtube pro mini terrorista que ameaça causar um acidente de trânsito só pra poder dirigir até em casa em paz e se sentir a pior criatura do planeta.
Esse eterno e infindável limbo que nos consome a cada dia, é claro, tem seu lado bom. Lá naquela extremidade de sorriso e eu te amos (mascarados, muitas vezes pelo pedido de doce ou “compra um brinquedo” logo em seguida, mas quem liga?) moram também consciências mais aliviadas de pais e mães.
Porque no fundo, tudo o que a gente também queria era poder descer da pose de adulto bem resolvido, chorar e bater o pé quando bate a vontade não ir pro trabalho. Ou de gritar que odeia o cara da imobiliária que insiste em cobrar o aluguel todo santo mês. No fundo, bem lá no fundo, a gente quer almoçar e jantar doces, deixar as frutas e legumes de lado e assistir TV o dia todo. Correr e gritar pelado pela casa como se não houvesse amanhã, pular no sofá como se fosse cama elástica.
A gente quer é largar a culpa e ficar só com os momentos felizes. Mas hoje, só por hoje, estou no limbo. Na insegurança de quem perdeu a paciência, viu as certezas irem embora e só queria o manual que ficou perdido na barriga quando o bebezinho saiu de lá.
Mas, pensando bem, que graça teria a vida se não fosse cheia de desafios, fazendo a gente valorizar ainda mais cada sorriso e cada eu te amo (com ou sem segunda intenção)? Olhando para o copo meio cheio, meus amigos, eu diria: Deus escreve certos por linhas tortas. E ainda bem que na criação dos filhos ele nos deu a oportunidade de duvidar de nós mesmos e buscarmos, cada dia, sermos um pouquinho melhores.
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