Uma única data é incapaz de abraçar e refletir as cores de uma vida inteira, de lutas, de pessoas guerreiras. Um único dia apenas levanta a poeira, sacode a velha bandeira, amassada, abandonada em outras 364 marcas do ano. Se hoje é reconhecimento, lembrança, para amanhã fica novamente a esperança de encontrar a igualdade, as oportunidades que todos entoam, unidos, o desejo de comemorar.
É verdade, meu bom amigo, para o preto ou qualquer outro coletivo, a agenda estimula o debate, desnuda a humanidade para o fato de dor existir. E também uma certa urgência, em buscar as sonhadas mudanças, mais cores, mais amor, renovando a confiança que um dia, em igualdade, possamos todos conversar.
A consciência é que o florido, de fotos, mensagens e vídeos, servem mais para o fulado ser percebido e propagar as imagens em suas redes sociais. Aos espíritos superficiais, que manifestam em curtíssimas danças, um dia já é o bastante. Troca-se a data e a importância de carregar a coerência ao comunicar.
Lá se vão os 15 ou 30 segundos de fama. E a vida do preto volta ao mesmo drama, contra o preconceito, com a estima na lama, novamente a lutar.
Meu espanto é ver tanta sabedoria, de “gente boa” crescendo, esquecendo que na verdade, outros, muitos outros, antes já formavam este lugar. Em Blumenau o branco foi como um corretivo, que borrou as linhas da história, e apagou da memória, as vidas negras desde lar.
Mas, este texto é sobre uma data, que está na moda ser valorizada, e reconheço , pouco praticada, como uma marcada preta para comemorar. Não é possível entender a intolerância, conviver com a ignorância dos que vivem para discriminar.
É como diz aquela canção do Rashid:
“O que fizemos aos senhores além de nascer com essa cor? E de sorrir lindamente diante de nossa amiga dor?”.
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