A Comissão de Saúde da Assembleia Legislativa foi surpreendida com a informação de que as equipes técnicas da Secretaria de Estado da Saúde vêm sofrendo ameaças formais por manterem o enfrentamento da pandemia de Covid-19. A afirmação foi feita pelo secretário adjunto da pasta, Alexandre Lencina Fagundes, durante debate sobre a atual situação do enfrentamento da doença em Santa Catarina, nesta quarta-feira (9).
De acordo com ele, as ameaças vêm sendo feitas por meio de mensagens eletrônicas. “Querem que as equipes não trabalhem do jeito que estamos trabalhando”, relatou. Segundo Fagundes, Santa Catarina não está vivendo um momento mais grave graças à vacina. “O momento atual é de certa estabilidade no número de casos, mas com um número bastante alto. É uma situação preocupante de alerta, pois temos prognóstico para aumento no número de internação e de óbitos. A secretaria está trabalhando nas frentes de assistência e fortalecendo todas as medidas de prevenção – uso de máscara, álcool gel e evitando aglomerações. Mas infelizmente estamos vivendo uma fase de fadiga de enfrentamento, a sociedade tem pouca adesão ao combate e ainda temos esse embate de comunicação. Infelizmente, pessoas da sociedade não têm conhecimento, embora a ciência e os números mostrem o contrário do que eles dizem”, destacou.
Presidente da comissão, o deputado Neodi Saretta (PT) afirmou que é fundamental combater as falsas informações, além de incentivar a sociedade a manter os cuidados básicos de prevenção. Para o deputado Dr. Vicente Caropreso (PSDB), o que está ocorrendo é uma campanha ostensiva que alguns grupos estão fazendo. “É ameaça física às pessoas que estão organizando o sistema de saúde. Isso é uma coisa grave. Estão querendo assustar ou bater em pessoas que estão se dedicando à proteção”, avaliou. O secretário adjunto comentou que, de fato, o que a secretaria faz é cumprir sua obrigação.
Números expressivos
Atendendo à pauta do debate promovido pela Comissão de Saúde da Alesc, o superintendente de Vigilância em Saúde do Estado, Eduardo Marques Macário, apresentou o panorama atual da pandemia em Santa Catarina. Segundo ele, o estado foi submetido a quatro variantes da doença – a original, a Gama (no fim de 2020), a Delta e a Ômicron (no fim de 2021), que é muito mais transmissível e tem impactado a população de maneira vertiginosa. “Os números são bastante expressivos e, se não fosse a vacinação, talvez a gente tivesse vivendo um dos momentos mais terríveis em termos de mortalidade”, avaliou.
Os dados mostram 1.496.869 casos confirmados, com incidência de 20.914 casos a cada 100 mil habitantes. Nos últimos sete dias foram registrados 61.123 casos, o que representa uma queda de 18% em relação à semana anterior. “O número de casos ativos é de 65.980. Uma redução de 17% em relação à semana anterior. Mas esses índices são muito superiores a qualquer média histórica mesmo nos piores da pandemia. Há uma tendência de estabilização na quantidade em praticamente todas as regiões de Santa Catarina, porém com números muito altos”, citou Macário.
O superintendente informou ainda que foram confirmadas 20.764 mortes em Santa Catarina, com uma taxa de mortalidade de 287 óbitos a cada 100 mil habitantes. Nos últimos sete dias foram registrados 222 mortes, número 23% maior do que na semana anterior. De acordo com ele, as regiões do Alto Vale do Rio do Peixe, Extremo Sul, Carbonífera, Serra e Extremo Oeste são as principais em termos de mortalidade.
Macário chamou atenção para o número de casos ativos, que é de mais de 65 mil. Uma quantidade muito superior ao dobro do que foi registrado em março de 2021, pior momento da pandemia. Todas as faixas etárias foram afetadas, mas o superintendente apontou que as pessoas de até 39 anos têm a maior taxa de transmissão, com mais de 40 mil casos em janeiro deste ano. “É um grupo que tem alta exposição ao vírus e, por conta disso, uma taxa de transmissão elevada. Sobre óbitos, o maior número aconteceu entre pessoas acima de 60 anos de idade. A maior parte delas não tinha completado o esquema vacinal com as duas primeiras doses e a dose de reforço”, contou.
Situação de UTIs
Outra mudança no enfrentamento à pandemia em Santa Catarina ocorre na quantidade de internações. Segundo Macário, o Estado tinha uma redução na ocupação de UTIs para a Covid-19, algo que permitiu a retomada das cirurgias eletivas, mas no começo do ano iniciou um aumento de 150% nas internações, passando de 413 para 1011, sendo que o maior público de internados é da faixa acima dos 60 anos.
“No geral, 40% dos leitos de enfermaria para adultos estão ocupados por pacientes com Covid. O Estado tem um plano de contingência para fazer um manejo da quantidade de leitos, transferindo pacientes para outras regiões, transformando leitos de UTI geral em UTI Covid. É algo que está sendo feito de modo incisivo por parte da Secretaria de Saúde, onde o secretário tem uma sala de situação que observa isso em tempo real justamente para que se possa manter as cirurgias eletivas acontecendo, mas também fazendo o acompanhamento para manter o combate à Covid”, assegurou.
Macário contou ainda que os dados estatísticos mostram que o Estado atingiu um platô no total de casos. “Permaneceremos com a média de 63.500 casos. É bastante elevado e, considerando que temos um aumento na taxa de hospitalização, isso significa que há mais pessoas vulneráveis expostas ao vírus. Há o risco de termos um aumento no número de internações e de mortes. Sobre as projeções relativas aos óbitos, estávamos com média de cinco por dia e agora está na casa de 30 óbitos. A tendência é que continue assim nos próximos dez dias”, lamentou.
Imunizados
Dados da secretaria sobre vacinação trazidos à Alesc apontam que 74,5% da população – 5.404.177 catarinenses – estão imunizados com o esquema vacinal completo. Nas faixas etárias, pessoas acima de 18 anos têm o esquema primário completo, algo que acontece também entre metade população adolescente, de 12 a 17 anos de idade. “As crianças, de 5 a 11 anos de idade, são o nosso grande gargalo no momento. E isso é fruto de grande e intenso processo de fake news que têm sido feito de forma coordenada por diversos grupos que não querem debater e, sim, desacreditar as vacinas. Elas foram atestadas, passaram pelas fases clínicas e aprovadas por autoridades sanitárias e têm feito toda a diferença para todo o mundo. As pessoas vacinadas têm uma menor taxa de risco”, garantiu o superintendente.
Em relação à dose de reforço, 61,2% dos catarinenses entre as faixas de 60 a 69 anos, 70 a 79 anos e de 80 anos ou mais já foram vacinados. “Mas 431 mil idosos ainda não receberam e estão vulneráveis, podem se infectar e ter uma probabilidade muito maior de morrer”, explicou Macário. Entre novembro de 2021 e janeiro de 2022, a taxa de internação de idosos não vacinados ou com o esquema vacinal incompleto foi 31 vezes maior do que entre pessoas da mesma faixa de idade que já receberam a dose de reforço. Entre os adultos, a taxa foi 20% maior para quem não se vacinou ou completou o esquema vacinal.
Fonte: Alesc
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