Escrever sobre maternidade atípica tem sido um desafio para mim nesses últimos meses.
Porque por mais que se tente, ninguém consegue realmente se colocar no lugar do outro e sentir o que ele sente.
Porque as pessoas geralmente esperam uma realidade completamente diversa da sua quando leem sobre nós.
Muitos acham que somos escolhidos por Deus, que temos uma força incrível que nos impulsiona pra frente, um coração imenso cheio de bondade e candura e um poço infinito de paciência e resiliência.
Permitam que eu os frustre nesse momento..
Não há nenhuma escolha sagrada, nenhuma guerreira, nada sobre nós remete à santidade.
Nossa paciência se esgota milhares de vezes, e por muitas, queremos fugir, sair correndo e nem olhar pra trás.
Porque somos humanos. Com esperanças, anseios, qualidades e defeitos.
Falhamos e acertamos.
É incrível o peso que colocam em nossos ombros, esperando algo de nós que poucos, senão nenhum, gostaria de fazer.
Nos colocam num pedestal onde com certeza ninguém gostaria de estar.
Nestas últimas semanas, vivi o luto pela perda de uma pessoa que eu amo demais e que o covid levou sem deixar sequer uma despedida.
E tudo que eu ouvi durante esses dias era o quanto eu era forte.
Recebia o boletim médico e engolia o choro.
Repassava as notícias para a família e engolia o choro.
Ela se foi, dei a notícia e de novo engoli o choro. Sou forte.
Não, não sou.
O choro por tantas vezes engolido nessas duas semanas veio devagar e acabou num choro sentido, doído, daqueles de sacudir o corpo.
Não somos fortes, só fazemos o que se espera de nós, porque se não fizermos, quem fará?
Somos frágeis, choramos e sofremos, queremos colo.
Queremos nos sentir amparados e protegidos.
Acolhidos, aceitos.
A maternidade atípica pode até parecer uma blindagem, mas não é.
Aqui também bate um coração.
Perfeito!!! Não somos guerreiras, somos o melhor que podemos ser! Obrigada pelo texto, Si!