Eu não sei se a privatização é boa ou ruim. Se o caminho é vender tudo, pagar aluguel para evitar cair nas garras do comunismo ou coloca-las sob um imenso cobertor quentinho, protegido do bicho papão do capitalismo. O que tenho clareza é nós, brasileiros, conhecemos muito bem as dificuldades do país, gostamos desta bagunça de um jeito meio que afetivo. Por décadas fazemos de conta que queremos resolver quando, na verdade, praticamos o autoengano.
Poderíamos ser uma nação muito mais forte se simplesmente as palavras possuíssem algum poder mágico de realização automática. Sabe, tipo um: pronunciou, votou, elegeu e “tcharam”, os problemas acabaram. Mas, a verdade é que nunca funciona assim.
Nós gostamos de conjurar alguns mantras em diferentes períodos da nossa história. Especialmente nesta época de eleição, quando ressurgem formulas fabulosas. Reformas política, administrava, fiscal, tributária, trabalhista, previdenciária e privatizações…. “mais saúde, mais educação, blá, blá, blá”. Tudo que dá uma esperança no coração e na prática nunca ganha pernas além da imaginação eleitoral.
Este discurso fiado, afiado com a paixão de uma multidão de iludidos, repetido a cada dois anos, quase que integralmente, paralisa o país. Em um segundo estamos em um multiverso onde tudo é possível. No outro momento a realidade bate na bunda e mergulhamos nas crises de todas as ordens.
O ritual de 2022 não é diferente daqueles que ficaram para história. Os mesmos gestos ritualísticos, vomitando feitiços que nunca funcionam são repetidos. Dedinhos em riste, em “V”, representando arminha, ou “L”… e lá vamos nós, novamente, com a maioria acreditando que, agora sim, a agua será transformada em vinho, com o fim do faz de conta e os mais otimistas gritando: “Vai Brasil!”
Como seria bom que um gesto, uma palavra, um encantamento, desatravesse todas as dificuldades que precisamos ultrapassar. Com mais uma eleição chegando, podemos ouvir algumas das provocações que aquecem os debates escaparem da boca dos candidatos.
Eu admito e repito: não tenho uma opinião formada sobre privatização, tema que ganhou destaque nesta semana, especialmente relacionada a Petrobras. Se ela acrescenta algo de bom para o cidadão, para o país é uma dúvida que tenho também.
Minha convicção é que este é um, ou mais um, balão eleitoral. Nenhum governante terá coragem de vender a empresa que representa o principal regulador de inflação de qualquer economia. Hoje, se não fosse uma Estatal, a gasolina e o diesel custariam ao menos 20% a mais para o consumidor.
Como já disse uma vez Barack Obama, “nada é capaz de acabar com a paciência dos eleitores como gasolina cara”. Nem mesmo no berço da liberdade econômica, que é os Estados Unidos, a exploração de combustíveis é plenamente aberta.
Em todos os países o assunto petróleo e derivados é tema estratégico, controlado militarmente pelo Estado. Por qual motivo precisa ser diferente no Brasil?
Além disso, sempre que penso em privatizações eu imagino o exemplo do transporte coletivo. Empresas exploram o sistema, em geral deficitário, e as prefeituras que venderam a concessão, “resolvem” o caixa empresarial com bondosos subsídios oriundos dos impostos. Coisa que se repete em modelos de energia, água, pedágios…
São muitas as dúvidas que surgem… afinal, você sabe responder: privatização é bom para quem?
Bom raciocínio.