Opinião | Qual o mal de oferecer uma esmola?

Foto: Gerson Flores, artista morador de rua. Tatiane Oliveira/Portal BHAZ

Existe uma regra para fazer o bem? O frio que chegou por aqui, nesta semana, que vitimou moradores de rua, não foi o suficiente para aquecer o coração de muita gente hipócrita, que dorme no conforto quentinho de um lar e pede para população um “esmola não”, nem dividir o pão, o edredom. Se alguém sofre, por qual motivo não devo estender a mão?

“Oferecer esmola a mendigo não é caridade, é solidariedade!” Eu acrescentaria, nesta fala de Franz Kafka, que é também um ato de humanidade. O fato de uma pessoa estar sem um teto não faz dele um algo, um menor, um não humano. Acolher é preciso em qualquer tempo e circunstância. “Fazer o bem e sem olhar a quem”, prega outro aforismo, este bíblico, não é mesmo?

Honestamente, eu já não sei mais em qual parte da história perdi o rumo da prosa. Para mim, ajudar o outro, distribuir gentilezas, simpatia, oportunidades, foi algo ensinado em casa. Por ser tão natural, chamamos isso de humanidade. Sem necessidade de clique, propaganda, benefício fiscal, orientações, certo ou errado. Se o outro precisa, por quê não ajudar?

É difícil, admito, compreender as razões que levam um cidadão comum a negar um pouco de calor para um humano, um irmão. Espanto muitas vezes maior é quando o ato negativo, o estimulo para não ajudar parte de um líder, religioso, empreendedor, gestor público ou político.

Acredito, ontem e hoje, que basta abrir o coração e oferecer para o outro o nosso melhor. Defender um “não de esmola” é o anti-humano que afunda nossas relações sociais, que desgraça o povo e diminui as chances de entregar para o coletivo a solução para as vidas de cada esquina, de todas as quebradas.

Parece que em algum ponto da história os valores da sociedade, do que é importante de verdade, foram retirados da praça e apenas uma versão prevaleceu então.

Hoje, existe quase uma defesa de Estado, em tornar invisível uma crescente multidão de anônimos que, desiludidos, encontram nas ruas um abrigo para os problemas de toda ordem. Para muitas instituições de assistência social, a intervenção de pessoas comuns, como você e eu, que desejam ajudar, oferecer comida ou um mínimo de dignidade, prejudicam o morador de rua. Na visão deste grupo, sem esmola, sem empatia, a higienização social é o único caminho, removendo da paisagem os farrapos de gente.

Me parece que a política de Estado está do lado errado. Se governos existem para proteger o povo, já não é um sinal de falha ver tantos nas ruas? Não importa o CEP do CPF que treme o queixo, ronca a barriga, que não tem abrigo… é um brasileiro, um humano que o sistema falhou.

Estar na rua, em marquises, embaixo de pontes, disputando semáforos, é o fim da dignidade. Em boa parte por falta de uma opção melhor. Para muitos governantes a solução é simples, basta que todos fechem os olhos para esquecer que neste momento cerca de 300 mil humanos, no Brasil, mal podem sobreviver.

Ajude! De o seu melhor!

Boa semana!

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