A Câmara de Vereadores de Blumenau recebeu o Seminário “Transtorno do Espectro Autista – conhecer para incluir”, que aconteceu na tarde dessa segunda-feira, 20, no Plenário da Casa, reunindo autoridades e representantes da área da Saúde, da Educação, Assistência Social, professores e pais, estudantes, pessoas de Blumenau e de outros municípios. O evento foi realizado pela Assembleia Legislativa do Estado de Santa Catarina (Alesc), por meio da Escola do Legislativo Deputado Lício Mauro da Silveira e da Comissão de Defesa dos Direitos da Pessoa com Deficiência, em parceria com a Câmara, com o apoio da Escola do Legislativo Fritz Müller.
O objetivo geral do seminário foi o de desenvolver uma reflexão sobre o que se entende por Transtorno do Espectro Autista (TEA) e discutir ações de inclusão, levando a sociedade entender melhor como conviver com a diversidade da pessoa autista, defendendo os seus direitos. O vídeo completo do seminário está disponível no YouTube.
O seminário contou com duas palestras. Uma delas de Simone Gadotti, formada em Gestão Pública e mãe de dois adolescentes, de 13 e 17 anos, ambos diagnosticados com autismo, o que a motivou a ser voluntária e ativista da inclusão desde 2013. Atualmente trabalha coordenando o Projeto Ágape, que prepara e capacita adolescentes autistas para o mercado de trabalho. Ela trouxe a sua experiência como mãe de dois filhos autistas ao falar sobre “Transtorno do espectro autista: diagnóstico, família, conscientização e inclusão”.
A outra ministrante foi a psicóloga e doutora em Psicologia Ana Carolina Wolff Mota, que tem trabalhado profissionalmente com o autismo desde 1995. Ela falou sobre “Inclusão social e escolar: princípios pautados nos direitos humanos e no modelo social da deficiência”.
Ambas reforçaram a importância de se debater o tema com toda a sociedade, destacando que autismo não é uma doença.
O vereador Almir Vieira (PP), enfatizou que o seminário serve para um momento de reflexão a um melhor entendimento sobre a condição da pessoa autista. Agradeceu a todos os envolvidos na organização e realização do seminário, em especial à Alesc por trazer o tema para o debate na Câmara de Blumenau.
O secretário municipal de Saúde, Marcelo Lanzarin, destacou que os profissionais da Saúde e da Educação, principalmente, sabem dos grandes desafios de lidar com uma criança com transtorno de espectro autista. Assinalou que como representantes do poder público é necessário ter um olhar mais atento para com essas crianças, ter o entendimento real do TEA, como incluir essas crianças e auxiliar no seu desenvolvimento.
O assessor técnico da Comissão em Defesa da Pessoa com Deficiência da Alesc, David Crispim, que na oportunidade representou o presidente da comissão, deputado Vicente Caropreso (PSDB), explicou que a realização do seminário é uma resposta ao pedido dos blumenauenses e do movimento dos que lutam pela pessoa com deficiência, em especial o movimento em defesa da pessoa autista. Disse que o seminário era um requerimento do vice-presidente da comissão, deputado José Milton (PP).
Explicou ainda que já foram realizados muitos seminários em diversos municípios e que em 2022 já aconteceram cinco eventos, reunindo mais de três mil pessoas.
“Autismo não é bandeira de um, mas é de todos nós. Deve ser de todos os poderes públicos. O movimento pela pessoa com deficiência hoje está cada vez mais segregado e isso enfraquece o movimento. Meu apelo é para que haja menos segregação e mais inclusão desse movimento que tanto luta pela inclusão. Inclusão é quando a gente abraça, convida para o baile e dança junto, não deixa a pessoa esquecida no canto”, apontou.
A vereadora Cristiane Loureiro (Podemos) também acompanhou o evento junto ao público.
Palestras
Simone Gadotti destacou que é preciso enxergar além do diagnóstico, porque por trás dele está uma criança, uma pessoa, um filho. Ressaltou que o diagnóstico é um norte, não mostra o que a pessoa autista é e sim o que ela precisa.
Destacou também que o autismo não é uma questão somente de mãe, de pai ou de família, é uma questão hoje de toda a sociedade e de todas as áreas: saúde, educação, assistência, mobilidade, tecnologia, e as demais.
Chamou a atenção especialmente para a importância do professor de apoio na sala de aula e afirmou que economizar com esse profissional é uma economia burra, porque com auxílio a criança pode se desenvolver. Defendeu ainda uma rede de apoio à mãe, porque quem cuida, precisa ser cuidado.
Enfatizou que em casa a criança precisa se sentir em um porto seguro, se sentir feliz, porque o ambiente externo, o mundo, a escola, são cruéis. “O mais importante é a família aceitar o diagnóstico e aceitar que o autismo não é uma doença e se não é doença, não tem cura”, assinalou, alertando que um filho não pode pensar ou crescer que é um problema ou um estorvo.
Sobre a importância da conscientização, alertou também dos direitos da pessoa autista e que defender os direitos das pessoas com deficiência é querer um mundo melhor para todos. “Cabe a nós fazermos com que nossos filhos autistas acreditem que eles podem ser o que quiserem, porque eles podem”, afirmou.
Ressaltou que quando desejamos que um filho autista fosse um filho típico, é o mesmo que dizer que ele não é suficiente para nós. Levantou a importância de o debate ser realizado dentro da Câmara de Vereadores, porque é onde são feitas as leis.
A psicóloga Ana Motta lembrou que até a década de 90 o autismo era visto como uma patologia, mas que ainda hoje é preciso falar de que não é. Explicou que atualmente se trabalha dentro da perspectiva de que se trata de uma condição ou variação humana. “É mais uma expressão da humanidade, outra forma de ser”, salienta, arrematando que conhecer uma pessoa autista não significa conhecer o autismo, que é uma questão de diversidade e pluralidade.
Como Simone, ela também ressaltou a importância de provocar a reflexão de que cada um de nós tem a ver com o autismo, e citou as funções como um caixa de supermercado ou um guarda de trânsito, que necessitam saber sobre essa condição.
Afirmou que autismo é da identidade, é da caracterização da pessoa e que todos nós temos o direito de sermos quem se é. Destacou também que atualmente muitos adultos estão buscando pelo diagnóstico.
Falou sobre a caracterização de pontos comuns entre os autistas e de sinais que podem ser percebidos nos bebês e em crianças, mas que nem um comportamento pode ser universalizado. Exemplificou que nem todo autista é hipersensível com sons altos ou que não gostam de ambientes com muita gente. Explicou que alguns que não têm problema com isso podem ser perturbados com outros ruídos. Também falou sobre a comunicação, hiperfoco e outras características relacionadas à pessoa autista.
Reforçou que autismo não é uma doença, nem um problema, mas é um jeito de ser. Também alertou que não existem níveis no autismo, pois é uma manifestação que se evidencia na interação da criança com o ambiente. Disse que os níveis que são falados se referem aos níveis de suporte necessários para liderar com determinadas características conforme o meio ambiente em determinado momento.
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