O novo jornalismo: conteúdo ou informação?

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Viviane Roussenq

jornalista

 

Jornalista de formação analógica, enfrentei o que todos da geração do telex e fax enfrentaram: a migração para o digital. As novas tecnologias chegaram para mudar definitivamente muito mais do que o encaminhamento ou formato da linguagem jornalística para nos impor um dilema: afinal, produzimos notícia ou conteúdo?

Se os mais otimistas defendem que o novo em nada prejudicou a base dos princípios jornalísticos, perdoem minha ignorância em subestimar o leitor.  Há pouco menos de uma hora estava a ler sobre as manifestações das centrais sindicais contra a PEC 55,  que limita os gastos públicos no país,  e não encontrei em pelo menos três “noticias” qualquer box explicando ao leitor o que envolve esta PEC explosiva no que diz respeito a vida do brasileiro com mudanças profundas em vários setores da economia.

Talvez qualquer leitor saiba o teor da PEC 55 e eu seja a chata e exigente a querer aumentar textos que são “visuais”.

É que esta redução da informação, não só no formato, mas no processo de elaboração, me incomoda. Com 26 anos de trajetória profissional tenho cada vez mais nítida a sensação de que produzimos mais conteúdo e muito menos informação jornalística. Conteúdo para todos os gostos, portanto com credibilidade questionável.

Afinal que fontes são estas? E o outro lado? Que se não nos garantia a propalada isenção jornalística que nunca existiu, pelo menos balizava a informação. O minimo era que suspeitássemos do que ambos os lados diziam.

Sou do tempo em que ao jornalista restava sempre a dúvida.

No entanto, não gasto o tempo do leitor deste texto para “pregar ” o antigo jornalismo como única via e forma de se pensar o encaminhamento da informação. As novas tecnologias ampliaram e muito este horizonte, oferecendo ferramentas que facilitaram a circulação do que presumimos que seja notícia.

Neste sentido é animador pensar que o que será elaborado ganhará uma grande vitrine e será consumido por um número de público leitor impensável, se por exemplo esta informação circular na internet. Também é algo novo e palpitante a repercussão da informação nas redes sociais analisadas como verdadeiros vetores de transformação social- basta lembrarmos das recentes manifestações do povo nas ruas se posicionando num cenário político tumultuado como enfrentamos até agora.

Sem falar na velocidade com que “os fatos” chegam ao conhecimento público.

São ferramentas inquestionáveis para alavancar o que páginas e páginas de jornais e revistas publicariam no dia seguinte ou o rádio alguns minutos depois. O que me intriga não são os ingredientes do “bolo”, mas como é feito, dividido e, assegurados ainda nesta receita, todos os ingredientes que facultam somente ao jornalista a prerrogativa da notícia.

Enquanto escrevo e partilho meu dilema, imagino que este cenário deva ser alvo de pesquisas e debates de grandes pensadores da comunicação. É uma possibilidade que me tranquiliza, a de imaginar que acompanhamos a vertiginosa mudança da disseminação da informação com a devida responsabilidade de adequá-la aos princípios que nortearam nossa bagagem profissional por tantos anos. E por acreditarmos que a luta era pela transformação social, o resto era retalho.

Meu desejo é o de que este mosaico informativo sinalize na mesma direção com poder de fogo redobrado.

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