“E pelos bares por onde andei, quantos copos eu já quebrei, ao brindar muita paz e a Deus rogar aos amigos saúde!”
Se este texto pudesse começar com o cantarolar de uma música, Pixinguinha chegaria aos ouvidos, como nos versos que abrem. Feito em um choroso saxofone, trazendo ao ar a doçura que combate a tristeza brasileira, que viu partir, nesta semana, duas vozes que trouxeram tantas alergias para um povo inteiro. Lá se vão Gal e Boldrin, de importância impar na cultura e no protesto popular.
Aqui, no Brasil, talvez pensamos pouco sobre a influência da cultura nas transformações sociais. Deveriamos sentir mais o que canta a periferia, o que apresentam todas estas lutas, cada gota de sangue de bicho, de gente.
Sou um palpiteiro que gosta da pauta de cultura popular. E vejo uma diferença imensa entre o que vivemos aqui, na terrinha, e nos países desenvolvidos. A mistura de povos, que faz ser o que somos, enriquece todas as expressões artísticas. Nossa música, admirada em todos os cantos do planeta, tem a força de Africa, o ritmo de Indígenas, a profundidade de europeus, asiáticos… e, as mais aceitas, são as menos contestadoras. Lamúrias de amor, canções para beleza humana e paisagens.
Como diplomacia, nosso canto, todas as vozes, são versinhos gostosos de ouvir. Uma união que arrasta as pernas em diferentes ritmos e aquece o coração com infinitas paixões.
Além daquelas que foram feita no Brasil, eu gosto de jazz, blues, da produção das músicas do preto americano. Lá, nos Estados Unidos, talvez pela segregação entre peles, os movimentos de afirmações, especialmente expresso na música – e nas canções de igrejas – ganham relevância diária e bem diferentes daquilo que ouvimos aqui.
Como orações, a américa grita forte tudo o que divide e afasta das oportunidades os que vivem nos quetos. “Oh , Senhor , não deixe que eles atirem em nós/ Oh, Senhor, não deixe que eles nos apunhalem/ Oh, Senhor, chega de suásticas”, é um trecho da música de Charles Mingus, em desabafo durante o difícil momento de luta pelos direitos civis por lá.
No Brasil, do nosso jeito, recebemos as letras contra o período de exceção. Foi nosso ponto alto de protesto na voz. Hoje, a revolta da música está na forma marota de cantar funk ou rap, abafado na periferia. Sem impacto, longe dos palcos, a força da nossa cultura lamenta os artistas que partem para outro plano sem conseguir assistir o espetáculo, a chegada de um novo som.
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