Nelson Rodrigues, talvez nosso maior cronista, dizia que “o brasileiro é um narciso às avessas.” Para chegar a tal vaticínio, utilizava um personagem que era seu amigo de infância. Onestaldo, um rapaz que escondia suas qualidades e gostava de ostentar em público seus piores defeitos. Fazia isso aos berros e sem nenhum constrangimento. Nelson Rodrigues comparava isso ao comportamento dos torcedores brasileiros frente a seleção brasileira de 1976. Sempre desacreditando e apontando os defeitos daquele time. E olha que a escrete canarinho naquele ano tinha entre outros, Leão, Falcão, Zico e Rivelino e Roberto Dinamite.
Neste domingo, começa mais uma copa do mundo de futebol. Não gosto do sentimento de patriotismo. Acho cafona e brega. Há quem diga até que este é o último refúgio de um canalha. Na história mundial, essa ideologia política só produziu ditaduras, guerras e mortes. Porém, na copa do mundo é diferente. Gosto de ser nacionalista. Nos jogos da seleção, há uma magia que faz nos encontrarmos como país. Um patriotismo que dura apenas 90 minutos. Constrói a ilusão que por aqui nos tratamos como iguais. O êxtase é na hora do gol. Dura poucos minutos, mas com a potência para levantar um país. Aliás, outro gênio da crônica, Eduardo Galeano definiu o gol como um orgasmo. “Um momento que nos esquecemos da terra e nos transportamos para o espaço”
Acontece porém que nosso uniforme foi sequestrado. Assim como o Onestaldo, foi usado para mostrar nossa pior, mais vil e mais brega faceta. Como esquecer a cena dos patriotas de São Miguel do Oeste, vestidos com a camisa da seleção e fazendo saudação nazista? Dos golpistas amotinados nas rodovias do país, impedindo o direito de ir e vir e não deixando medicamentos e doentes chegarem ao seu destinos? Dos carpideiros rezando e batendo nos muros dos quarteis pedindo ditadura e intervenção militar? Todos vestidos com a camisa da seleção. Como o anti-herói rodrigiano, também fazem isso aos berros. Transformaram-se motivos de chacota internacional. A reboque, emporcalhando nossa imagem no exterior e labuzaram a amarelinha.
Que na próxima semana, os escolhidos pelo Tite possam nos fazer esquecer estas imagens. Que a rede possa voltar a balançar, que haja chuvas de gol, a nosso favor, que tenhamos muitos orgasmos com a seleção. Sim, porque até de sexo esse povo nos queria castrar. Mesmo que seja pouco mais de duas horas, voltaremos a nos abraçar sermos um país unido. Que recuperemos a amarelinha. Como vociferava Nelson Rodrigues, este sempre será o país das chuteiras e dos calções. Somos os melhores do mundo sempre, e que as outras torcidas tremam.
Ao mencionar Eduardo Galeano, já se percebe o perfil do autor do artigo… lamentável, infelizmente…
Grande Eduardo Galeano. A ignorância pira.