Opinião | Era uma casa muito engraçada


Não tinha teto, não tinha nada. No caso da economia, foi mais ou menos assim que aconteceu. O tal “Teto de Gastos” foi criado pelo ex-Ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e instituído pelo governo Temer. A ideia era que, pelas próximas duas décadas, o país não poderia gastar mais do que em 2016, podendo haver a revisão desses valores somente após os primeiros 10 anos. Só que o problema das regras muito restritivas é que a vida é cheia de imprevistos e, assim como no poema de Vinícius de Moraes, essa lei “era feita com muito esmero, na rua dos bobos, número zero”.

Embora o controle das contas seja fundamental, como a população aumenta constantemente, limitar os gastos dessa forma obriga o Estado a encolher para caber no orçamento. É como fazer um adolescente continuar usando sapatos do mesmo número de quando era criança. Então, eis a realidade: o “Teto de Gastos” é um caminho onde o único horizonte é o Estado Mínimo, e sem passar pelo desgaste público sobre privatizações.
Genialidade política, típica de Michel Temer.

De qualquer forma, a lei visou dar ao país um caminho previsível, sem idas e vindas geradas pelas mudanças de governo. Porém, ela é muito rígida para durar décadas sem alterações, e hoje está aí sem muito respeito de ninguém. Tudo o que passa do limite se resolve na base da gambiarra, por meio de Proposta de Emenda à Constituição, como a “PEC das Bondades”, no governo Bolsonaro. Por isso, o novo governo tenta mudar essa perspectiva: partindo do princípio de que o lucro é originado por investimento, o Estado passaria a ter limite apenas para a dívida. Enfim, é o que resta ao “Teto de Gastos”, que depois da pandemia está muito mais para “teto de vidro”. Todo furado. E neste momento de debate sobre como manter o equilíbrio das contas públicas, os nobres deputados federais e senadores tentam aumentar os próprios salários, passando de R$ 33,7 mil para R$ 36,8 mil. As eleições já passaram, né?

É nessas horas que muita gente olha para céu e torce para ser levado por uma nave espacial.

A guerra dos mundos

Para provar que a Copa é realmente do mundo, houve confronto entre torcedores do Brasil e da Argentina… na Índia! Enquanto os indianos trocam sopapos, por aqui, muita gente com uniforme da seleção não está nem aí para futebol. Assim como o “Patriota do Caminhão”, milhares seguem à espera de um milagre, mas o tempo vai passando e a paciência também. Motivados pelas luzes avistadas por pilotos de avião no Rio Grande do Sul, manifestantes de Porto Alegre colocaram celulares sobre suas cabeças, usando as mãos para emitir sinais para o céu. O vídeo viralizou e vem sendo chamado de “pedido de intervenção alienígena”, o que não há como comprovar.

Mas se não for isso, o que seria? Um tratamento experimental contra a calvície?

Como ser brasileiro é viver com emoção, o partido de Bolsonaro pediu a anulação de 250 mil urnas eletrônicas, o que mudaria o resultado das eleições! Isso, na mesma semana em que um menino ligou pedindo comida para a Polícia Militar de Sete Lagoas, Minas Gerais, enquanto professores de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, souberam que vão ficar sem reajuste salarial, embora deputados e senadores tentem aumento para os seus próprios salários. Ah, e houve também o caso do padre assassinado dentro de sua paróquia, em Guaíra, Paraná. Enfim, é muita confusão. Para quem acredita, deve ser por essas e outras que os extraterrestes vêm aqui brincar com os aviões, fazer desenhos em lavouras e, de vez em quando, construir pirâmides. Só que depois de tudo isso, eles
vão embora. E sem falar com ninguém. Por que será, né?

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