O governador Carlos Moisés (Republicanos), que deixa o cargo neste domingo, tem tudo para ter tido uma passagem meteórica pela política. Apesar de recentemente ter assumido a presidência do seu partido, o que indica que permanecerá na vida pública, não acredito ser possível recuperar o espaço que caiu no seu colo por uma conjuntura muito especial, muito improvável de voltar a acontecer.
O que é uma pena, pois Carlos Moisés se mostrou um político interessante em bons momentos do seu mandato, em especial, por se distanciar das posturas do presidente Jair Bolsonaro (PL), na sombra da qual foi eleito em 2018. Era um absoluto desconhecido até a eleição e superou nomes como Gelson Merisio e Mauro Mariani na esteira do 17 para chegar ao Governo.
Mas pagará o preço da inexperiência e por uma certa arrogância.
Embalado pelo discurso da antipolítica de 2018, eleito, se encastelou no Palácio da Agronômica no começo de gestão, se afastando de prefeitos, deputados e demais lideranças. Pouco conversava e muito menos ouvia.
Militar do Corpo de Bombeiros, se cercou de outros militares, e não esteve disposto a dialogar fora de seu grupo muito restrito. Lembro da “triagem” a qual deputados e prefeitos eram obrigados a passar para tentar uma conversa com o governador e nas poucas agendas públicas que realizava, a seleção de convidados era restrita.
Depois veio a Pandemia e se encastelou ainda mais, apesar de ter adotado as medidas certas naqueles tempos tão imprevisíveis. Mas evitou conversar com segmentos importantes da sociedade, o que gerou um distanciamento ainda maior.
No começo da pandemia, enfrentando muitas críticas pelas duras – e importantes – medidas que tomou, aconteceu um dos maiores escândalos de corrupção de SC, descoberto pelo portal The Intercept. A compra fraudulenta de 200 respiradores por R$ 33 milhões.
Ele, em tese, não teve culpa, em tese tomou todas as medidas que precisava para recuperar o dinheiro, não é denunciado por nenhum órgão de fiscalização, mas o carimbo ficou, afinal era o governador, e quase lhe custou o mandato, no segundo processo de impeachment que sofreu.
Curiosamente, foi a política que o salvou, a providencial aproximação com os partidos tradicionais, como PSD, PP e MDB. Os votos dos deputados destes partido garantiram sua permanência no mandato.
Depois disso, Moisés abriu espaço para o diálogo, trouxe um articulador profissional para seu lado, Eron Giordani (PSD)- que acabou sendo candidato a vice na chapa de Gean Loureiro (União) – e trouxe para a administração algumas ações inovadoras, em especial, o uso de recursos estaduais para obras em rodovias federais, sendo a nossa BR 470 a mais beneficiada.
Em seguida, lançou o Plano 1000, o projeto municipalista mais ousado de um Governo em Santa Catarina, atraindo para o seu lado quase todos os prefeitos catarinenses. Afinal, a proposta era repassar R$ 1 mil por habitante para todos os 295 municípios, a cada ano. Bastavam que as Prefeituras apresentassem projetos e o dinheiro seria liberado.
Blumenau foi exemplo desta aproximação. A cidade, que não recebeu a visita do candidato a governador no segundo turno de 2018 e mesmo assim votou em massa em Moisés, praticamente não recebeu visita dele nos dois primeiros anos de mandato. No final do terceiro ano, o governador começou uma aproximação com o prefeito Mário Hildebrandt (Podemos), um de seus maiores críticos. Hildebrandt condicionou a proximidade a “gestos para Blumenau”, como sempre repetiu. E eles apareceram, no quarto ano do Governo, ano de campanha eleitoral, com investimentos em mais de 25 obras na cidade com recursos do Estado pelo Plano 1000 e outros convênios.
Foi assim em Blumenau e na maioria das cidades catarinenses, mas foi tarde demais.
O Moisés criativo na gestão para acelerar obras federais e no plano municipalista surgiu faltando pouco mais de um ano para o fim do seu primeiro mandato e ficou a dúvida sobre o que pensar dele na hora do voto. Qual governador que SC teria caso fosse reeleito, o do começo ou do final da gestão?
O distanciamento de Bolsonaro talvez tenha sido o fator mais decisivo para Moisés ficar de fora do segundo turno da eleição deste ano, polarizada entre o 22 e o 13 mas mostrou postura e identidade.
Volto a escrever. Moisés pagou pela inexperiência e uma certa arrogância. Talvez ele entenda como coerência, no que está, pessoalmente certo.
Mas tudo para ser esquecido logo na história política de Santa Catarina.
Moisés se elegeu na aba do Bolsonaro, assim como se elegeu agora esse senador que ninguém jamais viu… e assim vai, o povo sendo enganado e o pior, se enganando também…