Opinião | O maior desafio de uma Mulher, hoje, é se manter viva

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Neste Dia Internacional da Mulher, para nós do Instituto Mães do Amor em defesa da diversidade é mais um dia de enfrentamento ao preconceito, desvalorização e violência contra a mulher. Mas não podemos nos esquecer que há outros corpos à margem. Partimos da ideia de mulheridades e interssecionalidade, como sendo a compreensão de que as mulheres se percebem no plural, e com diferentes recortes, que não restringe às mulheres as suas funções biológicas. Pelo contrário, devemos neste dia e o ano todo incluir, aceitar e proteger a existência de outros corpos e vivências, como mulheres cisgêneras que não possuem útero, pessoas intersexo, travestis e mulheres transexuais, exemplos de corpos abarcadas no guarda-chuva do termo mulheridades, que podem ou não possuir útero ou menstruar.

Além de incluir todas as mulheres no 8M, também devemos realizar o recorte de cor, pois são as mulheres pretas as maiores vítimas da violência sexual, psicológica, estrutural num estado machista em que estamos inseridas. Enfrentamos as dores dos feminicídios, a falta de isonomia com os homens nos espaços privado e público e a falta de amparo no exercício dos direitos sexuais e reprodutivos.

As mulheres podem ser negras, ricas, portadoras de deficiências, brancas, pobres, indígenas, bissexuais e trans, por exemplo. Cada uma com seus sofrimentos e suas pautas de reivindicações, a depender da concretude de nossas vidas.

Na civilização ocidental, todavia, há um poder que atravessa toda a sociedade e nos atinge a todas. É o machismo, que nos aprisiona ao espaço doméstico e nos reserva os papéis de mães e de cuidadoras, enquanto deixa para o homem o papel de provedor, no espaço público; é o que afirma não termos capacidade de exercer a liderança, pois esta seria uma característica masculina; e é o que nos reduz ao próprio corpo, o qual se torna objeto de apropriação por nossos companheiros ou parentes, que nos impõem regulações sobre o que devemos vestir, ou como devemos nos comportar.

Estes são os efeitos do patriarcado, poder que dita as relações de gênero em nossa sociedade. É ele que normatiza o que as mulheres e homens devem ser, performar e viver. Algumas das consequências são estas: o aumento de feminicídios, da violência contra mulheres e pessoas da diversidade, e em especial contra o corpo negro:

1) Na educação 5,2% das mulheres negras alcançam o ensino superior, enquanto as brancas são 18,2%.

2) Quanto mais alto o cargo, menor a presença feminina, ainda mais negra. Enquanto há 62% de homens brancos na alta liderança, há apenas 20% de mulheres brancas. De homens negros, há 13%, e o percentual de mulheres negras é ainda mais baixo, atingindo apenas 4% – relatório Women in the Workplace 2021.

3) Nas famílias em que a mulher está à frente do lar e com filhos, mais de 67% são negras (IBGE/2021), que criam seus filhos sem rede de apoio, sem creches em tempo integral e gratuitas, que passam por dificuldades até em colocar comida no prato e correm o risco de perder a guarda de seus filhos.

4) De acordo com o levantamento do Anuário Brasileiro de Segurança Pública (2021), 62% das vítimas de feminicídio no Brasil são negras. E quando falamos das vítimas de outros tipos de assassinatos violentos, esse índice passa dos 70%.

Diante de todas as dificuldades, o maior desafio de qualquer mulher, hoje, é se manter viva. A forma de superar esse desafio é por meio da promoção de políticas públicas que visam a erradicar o racismo, o machismo e a transfobia de nossa sociedade– os maiores venenos que entremeiam e danificam a nossa sociedade.

É necessária a promoção de políticas efetivas que garantam o acesso aos direitos sociais, políticos, econômicos, culturais e ambientais para todas as mulheres e suas performances de gênero. Somos nós que mantemos essa sociedade e precisamos nos manter vivas, nem que seja por hoje!

Rosane Magaly Martins, advogada ativista em Direitos Humanos e presidente do Instituto Mães do Amor em defesa da diversidade.


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