É possível que minutos após a publicação deste texto, me arrependa profundamente das palavras que vou registrar. Não por falta de segurança no conteúdo que escrevo. É pela certeza da estamos vivendo uma época muito estranha, de autoridade sem responsabilidade, de monólogos ácidos, lacração enfadonha, demagogia barata e maldade mesmo. Parece até que as pessoas perderam a capacidade de pensar, interpretar e formar suas analises ou tomar decisões com base nas suas convicções.
A semana foi isso… Qualquer fala, texto, entrevista ganha um contexto do tamanho e com o viés de quem recebe, com o gosto doce/amargo do grupo que pertence ou deseja pertencer. Isso é chato! As vezes o sentimento é que nestes adultos existem crianças de 3, 4 anos de idade que estão aprendendo a falar, repetindo e repetindo o que uma outra pessoa diz sem nem perceber o que carregam na ponta da língua, nos dedos.
O descuido verborrágico, intencional na maior parte, segue para além das disputas políticas. A mesma boiada que caminha unida, abraçada, rumo ao abismo, também não faz questão de encontrar coerência ou um mapa próprio quando o assunto é a direção da sua conta bancária. A definição da taxa básica de juros no Brasil é o mais puro suco de perversidade que ilustra a nossa triste realidade. E ai, entre gritos, não refletimos sobre a real necessidade: precisamos encontrar um meio para prosperidade de todos.
Em 2021, quando a Selic beirava 2% ao ano, escrevi para o Informe Blumenau falando que era irracional os juros estarem naquele patamar. Como se minha bola de cristal funcionasse, destaquei uma frase do ex-governador, Luiz Henrique, registrada em 1991 que dizia: “o vazio de governo cria o vazio de Congresso, que cria o vazio nacional e espalha a desgraça, o desalento. Enquanto isso, a inflação volta a subir com ímpeto. E, com ela, volta a velha prática de elevação de juros. Os juros da quebradeira”.
Nesta brincadeira de voltar no tempo, olhar para o passado, é bom lembrar que em 28 de fevereiro de 2019, quando começou o mandato Jair Bolsonaro/ Roberto Campos Neto no Banco Central, eram necessários cerca de R$ 3,50 para comprar US$ 1,00. Desde então, afundamos como uma das piores moedas do planeta, mesmo com os mais altos juros reais do mundo. O mesmo cidadão segue lá, por mais dois anos, definido a desproteção do real, a inflação e estabilidade financeira do país.
Antes de escolher qual o nível da Selic ideal que você imagina para este momento, reflita comigo: qual a lógica de qualquer empreendedor pegar um dinheiro emprestado pagando mais de 20% ao ano de juros? Quem vai financiar um imóvel, trocar de carro, parcelar um bem de alto valor com taxas nas alturas?
Eu recorro novamente ao que escreveu Luiz Henrique, em 1995, para dizer que períodos longos de políticas elevadas de juros destroem lentamente tudo na economia. Mata o consumo, gera desemprego, estrangula os negócios, aniquila a esperança. “A agricultura está em pane. E em pane está, crescentemente, cada vez maior o número de empresas industriais e de serviços”.
O que eu espero, sinceramente, é que este delírio coletivo chegue ao fim. Que a conversa possa voltar e fazer as pazes com a civilidade. Já que o sofrimento de milhões passando fome nas esquinas, morrendo na pandemia, ou sem amparo social, não tocam mais, nem mobilizam o íntimo das pessoas, quem sabe agora, como declarou uma vez Delfim Neto, com a dor batendo na “parte mais sensível do corpo humano: o bolso”, as reflexões encontrem um centro de paz comum.
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