Existem aqueles que na falta de exercitar a cabeça, o coração, acreditam que para tudo a arma, o grito e a violência são as soluções. Não são! Definitivamente o caminho não é este. O Brasil é um dos países do mundo que mais encarceram pessoas desde sempre. Uma pátria amada que caça diariamente humanos em becos, favelas e paisagens urbanas. Um povo que o bandido e o faminto possuem o mesmo rosto, um pobre estereotipado corpo confundido em uma vala qualquer. Uma nação que nunca pacificou suas tribos e que sempre desejou ser como um branco americano ou europeu.
Somos o endereço que o acaso nos deu. Por aqui, o direito à vida, a paz e a liberdade dependem fundamentalmente da “sorte” ao nascer. Feito cara ou coroa, uma moedinha jogada para o céu que, ao cair, define a caminhada e a morte. Ainda assim, em cada nova tragédia social, cresce o desejo de tantos em mais medidas e ações repreensivas. O que é completamente sem sentido, inexplicável!
Se balas, cassetetes, se o medo da punição resolvesse alguma coisa, faríamos inveja aos alemães, aos suíços, por exemplo, que registram baixíssimos índices de violências. Nem teríamos mulheres chorando a força bruta dos homens que a burrice insiste em ferir e/ ou diminui-las. Também, o fim chegaria para a perseguição aos negros, LGBTQIAPN+, e todos que sofrem os crimes de racismo, ódio, fobias.
Nitidamente vivemos um desbalanço enorme de compreensão do momento de uma (nem tão mais) silenciosa guerra de classes. De um lado a falta de igualdade que rouba a chance, que o destino empurra, que revolta. De outro, a ausência quase propositada, anárquica do Estado.
Insistir na radicalização da repressão não ajuda o país a melhorar. Joga, na verdade, nosso destino morro abaixo, descendo para terrível escuridão medieval. É a velha canalhice que sempre ressurge para arrebanhar cabeças vazias de ideias, quando falta o frescor civilizatório. Vai se ignorando a lógica, a pele, o CEP, a conta bancária e tudo o que a própria história registrou ao longo de décadas. Desconstrói o outro, desejando ao estranho aquilo que jamais poderá suportar no próprio corpo ou em um dos seus.
Acho muito esquisito quando a realidade erguida segue distante do que pode ser sentida. Nesta semana os nossos pés deixaram de perceber a firmeza da terra, repetimos a queda em um destes buracos cavernosos que assombram o presente. Continuamos assustados, sem respostas, para barbárie cometido por uma criança.
E qual seria uma boa medida para evita que ações delinquentes desta natureza voltem a ocorrer? Tratar todos, indiscriminadamente, como criminosos, com restrição de acesso, revista diária? Ou funcionaria só em “unidades de favela”, de pobre? Existe quem defenda o armamento de profissionais de educação. E ai, imagino uma mãe, ao deixar sua criança na escola, ouvindo que é para ficar tranquila que ali, na sala de aula, todos estão com facas, pistolas e munições até os dentes. Para alguns o caminho é reduzir a maioridade penal e treinar estes adolescentes-adultos para o uso de armas. Mas, penso na reação de um pai, preocupado, ao ver seu filho (a) com os amigos seguindo para o cinema, por exemplo, e um deles falar: fica tranquilo senhor, eu trouxe a minha pistola.
Entre tantos desafios que a segurança pública impõe, encontrar resposta para tragédias, crimes, loucuras envolvendo crianças parece um dos mais difíceis. Talvez por suas fragilidades, por uma incapacidade coletiva que permitiu que elas fossem contaminadas por toda barbárie que prospera do ódio que divide a nação. Para deixar este amontoado de coisas no passado, o Estado brasileiro precisa descentralizar as responsabilidades e avançar juntos – União, Estados e Municípios – com a sociedade, construindo medidas que apontem outra coisa que não seja um alvo, um tiro mortal, no coração das famílias.
Tarciso Souza, jornalista e empresário
E ainda tem gente que faz “arminha”
O amor venceu, sem mais armas! Texto publicado 3 dias antes do ataque a creche. Será que a arma nesse caso não era a solução? Ou tinha como alguém exercitar a cabeça lá e conversar com o agressor com a machadinha explicando e fazendo-o exercitar a cabeça também para entender o porque não deveria atacar as crianças?
Pergunta pra qualquer mãe que perdeu o filho ontem no massacre se eles não iam preferir uma escola com um guarda armado.