Reunião aborda pontos principais do Programa Universidade Gratuita

Foto: Vicente Schmitt/Agência AL

O programa Universidade Gratuita, que o Governo do Estado quer implantar no segundo semestre, é o grande debate de 2023 da Assembleia Legislativa. A ponto do próprio governador Jorginho Mello (PL) participar, de forma remota, da reunião da Comissão de Educação, Cultura e Desporto do Parlamento nesta terça-feira, que durou cerca de três horas.

No encontro, representantes das instituições de ensino particulares e comunitárias, dos estudantes e deputados participaram do encontro, realizado de forma virtual. Durante as manifestações, os participantes demonstraram preocupação principalmente com a origem dos recursos que vão financiar o programa que pretende oferecer até 75 mil bolsas de estudo nas universidades comunitárias. Houve, também, questionamentos quanto aos problemas estruturais que atingem a rede estadual de ensino.

O governador Jorginho Mello defendeu a aprovação do programa da forma como ele foi encaminhado à Alesc, destacando que o Estado não utilizará os 25% exigidos por lei para investimento em educação para financiar as bolsas de estudo.

Jorginho considera que há muita desinformação sobre o programa. Disse que os recursos do Artigo 170 da Constituição Estadual para as instituições particulares passarão de 10% para 20%, ficando os 80% restantes para as comunitárias.

“Tem muita fofoca, uma queda de braço que não tem sentido”, disse o governador. “Não precisamos dessa disputa entre particulares e comunitárias. Todos os alunos que precisam do braço do Estado, nós vamos ajudar.”

O secretário de Estado da Educação, Aristides Cimadon, destacou que o Universidade Gratuita prevê uma série de contrapartidas dos estudantes beneficiados e das instituições atendidas, inclusive no desenvolvimento do ensino profissionalizante, citado durante a reunião como um dos problemas enfrentados pelo estado.

“Trata-se de um projeto de desenvolvimento do estado”, afirmou Cimadon. “Não há a necessidade de ficar brigando por recursos, porque ambos terão ganhos enormes e o estado terá um ganho maior.”

Sobre a fonte de recursos para o programa, o secretário de Estado da Fazenda, Cleverson Siewert, afirmou que o dinheiro virá dos recursos previstos nos artigos 170 e 171 da Constituição, e o restante do tesouro estadual. A informação causou preocupação na presidente da Comissão de Educação da Alesc, deputada Luciane Carminatti (PT), que entende que o uso de recursos da Fonte 100 vai resultar em diminuição de investimentos na educação básica.

“O governo tem que dizer qual a fonte que vai financiar esse programa”, declarou a deputada. “Não devemos tirar dinheiro da educação básica, nem da Udesc”, completou a parlamentar.

Representantes do Ministério Público Estadual e do Tribunal de Contas do Estado  participaram da reunião e manifestaram preocupação com o que classificaram como “inversão de prioridades”. Os representantes dos dois órgãos entendem que o dever constitucional do Estado é investir em ensino fundamental e médio, e não no superior.

O promotor de Justiça Marcelo Araújo afirmou que só na Capital 37 escolas estaduais enfrentam problemas estruturais e necessitam de investimentos. “Temos que nos preocupar com o ensino superior, mas no ensino básico tem que ter uma aplicação mais efetiva de recursos.”

O auditor do TCE Leandro Gaudêncio apontou alguns problemas no programa, como a inversão de prioridade constitucional, a ausência da estimativa de impacto financeiro e a origem dos recursos, entre outros.

Outro debate importante foi sobre a partilha dos recursos, com representantes das instituições comunitárias e particulares apresentaram posições divergentes sobre o programa. Na proposta oficial, serão 80% repassados para as instituições do sistema Acafe e 20% para as particulares, indíces que devem ser mudados pelos deputados.

Henrique Lago Silveira, da Associação Nacional das Universidades Particulares (Anup), afirmou que 68% dos alunos de graduação estão em instituições particulares, enquanto 17% estão em comunitárias. “17% terão acesso a 80% dos recursos, enquanto 68% vão ter 20% do dinheiro do programa”, citou. “O projeto cria um novo elitismo, financiado pelo Estado.”

O presidente da Associação de Mantenedoras Particulares de Educação Superior de Santa Catarina (Ampesc), Cesar Augusto Lunkes, afirmou que o programa tem equívocos, que demandam de mais tempo para serem debatidos. Para ele, o Universidade Gratuita “é estatizante e não democratiza o acesso ao ensino superior.”

Pelo lado das comunitárias, Luciane Ceretta, presidente da Associação Catarinense das Fundações Educacionais (Acafe), destacou a importância dessas instituições no desenvolvimento do estado. Para ela, recursos públicos devem ser investidos em instituições de origem pública e não em privadas. “Nossa luta não é contra ninguém, é a favor da educação como patrimônio dos catarinenses.”

Claudio Jacoski, da Associação Brasileira das Instituições de Ensino Comunitárias (Abruc), afirmou que as universidades da Acefe têm caráter filantrópico e prestam inúmeros serviços à comunidade em todo o estado.

Representantes dos estudantes também participaram da reunião desta terça. Alex Chernehaque, das instituições privadas, afirmou que o programa fará com que o ensino superior seja para “poucos e ricos” e criticou o fato de não haver previsão de recursos para bolsas de pesquisa. Jean Calza Ribeiro, das universidades da Acafe, defendeu o trabalho desempenhado pelas instituições comunitárias.

A representante da União Nacional dos Estudantes (UNE), Vitoria Davi, acredita que recursos públicos “não devem ser destinados para o enriquecimento de grandes corporações de ensino privado”. Já Natan Rech, da União Catarinense dos Estudantes (UCE), defendeu a maior porcentagem do programa para as comunitárias.

Os deputados Mario Motta (PSD), Marquito (Psol) e Matheus Cadorin (Novo) participaram da reunião. Cadorin defendeu que os recursos do programa deveriam ser destinados para resolver os problemas do ensino básico. “O correto seria 100% dos recursos para os alunos. O programa é para os alunos, não para as instituições”, completou.

Marquito questionou sobre a fonte dos recursos para o programa e demonstrou preocupação com a retirada da reserva de 10% dos recursos para investimentos na Udesc. Já Mário Motta entende que deveria ser um direito do aluno beneficiado com a bolsa escolher a instituição em que quer estudar.

Ao final do encontro, a deputada Luciane Carminatti destacou a importância da reunião. “O Parlamento não pode se furtar ao debate sobre esse tema tão importante.”

Ela reiterou a preocupação com a fonte de recursos para financiar o programa, além da necessidade de investimentos na estrutura das escolas estaduais e na ampliação do ensino profissionalizante.

O Governo quer aprovar o projeto até segunda quinzena de julho, para que comece em agosto. Pelo climaa da reunião está claro que precisará negociar bastante.

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