Opinião | O Brasil que Transparece

Foto: reprodução

Os últimos meses têm sido bastante conturbados para o país, muito em função da mudança de governo, o que é natural, pois é um período de adaptação. Alguns problemas relacionais entre os poderes seguem, ou por tradição no país ou pela dificuldade de articulação e negociação do governo atual. Existe um claro descompasso entre o poder executivo e o legislativo, especialmente na câmara dos deputados, fruto da continuidade da polarização e da falta de poder conciliatório do atual presidente da república, Luís Ignácio Lula da Silva.

Durante o pleito de 2022, para muitos e não a maioria, Lula representava a possibilidade de diálogo e poder de apaziguar as diferenças e assim conciliar o país. Na prática, isso não se confirmou, pelo contrário, as diferenças ideológicas foram acentuadas já no início do seu mandato, pois os comparativos com o antecessor seguiram e com isso um acréscimo de pólvora nessas diferenças. Por outro lado, também ocorreu uma espécie de acerto de contas com opositores e desafetos, como o caso do senador Moro e ex-deputado federal, Deltan Dallagnol, o qual acabou com o mandato casado (vergonha para a democracia brasileira) por ação de partidos ligados ao atual presidente.

A relação com o congresso é vital para que o projeto Brasil do atual governo, este ainda não claro e muito confuso, tenha sucesso. Existe uma diferença relacional das duas casas do congresso com o executivo, o senado, através de seu presidente, Rodrigo Pacheco, o qual tem se mostrado mais próximo e sensível as investidas do governo federal. Já na câmara, Arthur Lira tem tido uma postura questionadora e de defesa institucional da casa que preside, além de auxiliar no interesse de congressistas, o que tem resultado em derrotas para o governo federal, como no caso do PL 2630 (fake News).

No senado, a proximidade com Pacheco resultou, por exemplo, na polêmica e triste aprovação do advogado pessoal do presidente da república, Cristiano Zanin, para ministro do STF, o que representa um grande atraso para a democracia e independência dos poderes. Com esse cenário, o Brasil segue sem projeto claro, as perspectivas de aumento no custo de vida das pessoas devido a reforma fiscal, são uma realidade que nos ameaça e é preciso que este projeto seja muito bem discutido e não aprovado via liberação de recursos para parlamentares.

Outra dificuldade está na relação de Lula e sua equipe econômica com o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que, apesar dos juros altos, tem, nos últimos anos, garantido uma inflação muito bem controlada e o câmbio valorizado. Este inclusive, verificando 2022, foi a segunda moeda mais valorizada do mundo, segundo Valor-Globo, esta falta de sintonia com o BC (Banco Central) é muito preocupante, especialmente pela visão retrógrada em intervir no Banco Central, o que não corre nas democracias liberais modernas, portanto nos países mais justos e desenvolvidos.

Por fim, a falta de transparência, ausência de projetos na educação, economia, saúde, ou seja, não existindo um planejamento para o Brasil, fazem com que tenhamos um horizonte bastante incerto e de perspectivas bem limitadas para o desenvolvimento econômico e social do país.

Prof. Leonardo Furtado da Silva, doutor em Desenvolvimento Regional



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