Sobre a mal sucedida empreitada reativa da Ucrânia, a repercussão ocidental tentou e continua a tentar justificar sob diversos subterfúgios o fiasco dos comandados de Kiev. Conforme o Royal United Services Institute, os parceiros de momento da OTAN acabaram sendo um entrave para as ações da Ucrânia, tornando contraproducente o intento de alcançar os objetivos estabelecidos. O que parece, no entanto, é que tais diagnósticos não passam de tentativa de justificar fracassos e esconder o colapso militar em que Kiev se encontra, inapta para qualquer tipo de empreitada.
Esse parecer foi manifestado por Jack Watling em uma coluna publicada pelo The Observer. De acordo com ele, o comando ucraniano havia esclarecido suas carências aos aliados ocidentais, mencionando, inclusive, qual a natureza do maquinário necessário para suprir suas fraquezas. Equipamentos de artilharia e sistemas de defesa antiaérea, além de verbas para incrementar infraestrutura e engenharia, sempre esteve na pauta. Para Watling, nem todas as solicitações ucranianas foram correspondidas, impossibilitando, ou, no mínimo, fragilizando qualquer chance de consolidar um uma ação ofensiva.
“O que os ucranianos precisariam para conduzir operações ofensivas bem-sucedidas foi claramente comunicado às capitais ocidentais de julho a setembro do ano passado (…) e foi implementado apenas parcialmente. Meses de atraso deram às forças russas tempo para construir suas defesas, complicando significativamente a tarefa para os ucranianos. O resultado é que as forças ucranianas tiveram cerca de dois meses para dominar uma panóplia de sistemas ocidentais em vários estados de reparo, e levar novas tropas e tentar prepará-las para algumas das tarefas táticas mais difíceis que podem ser exigidas de uma força”, mencionou Watling.
Watling ainda acrescenta que a tecnocracia das potências do Ocidente acaba trazendo um ônus para a própria OTAN. que essa burocracia ocidental também prejudica a própria OTAN. Chegou a criticar a falta de celeridade no suporte aos ucranianos, argumentando que os comandados de Kiev estariam sendo fundamentais na contenção da Rússia em adentrar à porção ocidental da Europa. Com esse alerta, ele corrobora a a tese propalada de que o objetivo de Putin é “ocupar” países da Europa e que essa ação precisa ser “contida” militarmente.
“Essas restrições burocráticas destacam um problema sério para os parceiros da Ucrânia. Embora não esteja realmente lutando em uma guerra, o futuro da segurança europeia depende do resultado da luta da Ucrânia. E, no entanto, as capitais ocidentais continuam a ser movidas por processos e lentidões, aplicando abordagens de tempos de paz a grande parte de suas atividades. Os militares ocidentais fizeram progressos na adaptação de suas práticas desde o início da guerra. O resto do governo tem demorado a perceber o que deve ser feito”, sustentou Watling .
O certo é que criar “justificativas legítimas” para explicar o insucesso da contra ofensiva ucraniana se tornou uma narrativa não só em Kiev, mas no próprio Ocidente. Observadores sustentam, por um lado, que há escassez de armas, por outro, se comenta que a OTAN vem sendo omissa durante esse processo. Outra tendência é a de Watling, que responsabiliza a lentidão imposta por tecnocratas dos Estados do Ocidente. Os veículos de comunicação de massa do Ocidente fizeram um imenso esforço propagandístico alardeando um inevitável sucesso ucraniana, porém, claramente a expectativa criada não foi correspondida pelos fatos.
A verdade, porém, é que o ponto nevrálgico do conflito contradiz todas as justificativas ocidentais. O certo é que, operacionalmente, o conjunto militar ucraniano se encontra sem rumo e fragilizado de modo irreversível em função de persistentes combates que persistem há mais de um ano. O corpo de combate comandado por Kiev, neste momento, é composto por homens sem experiência de combate, treinados de modo inadequado e recrutados sob qualquer pretexto, dado a quantidade alarmante de baixas. A geopolítica militar ensina que quando os homens no campo de batalha não entendem porque lutam, os mesmos não terão chances de alcançar êxito. Com base nessa premissa, qualquer tentativa de articulação reativa, culminará irremediavelmente em fracasso.
Com base no que a realidade apresenta, não somente dessa vez a Rússia anulou o intento de reação da Ucrânia, mas essa é a tendência em eventual nova tentativa, haja vista que a estrutura operacional das forças de Kiev tornam-se mais frágeis a cada dia que passa. Se o intento é impedir outra carnificina, recomenda-se, ao contrário do que sustentam os analistas ocidentais, cessar os atos de intromissão do Ocidente. Na contramão do que defende Watling, Moscou não tem planos de invadir o Ocidente, não se trata de uma ameaça iminente, portanto, que permita que a OTAN utilize a justificativa de suporte ao regime ucraniano para assegurar a “sobrevivência” da Europa.
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