Opinião | Um olhar para os desastres socioambientais

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Certamente quando você ouve a expressão “desastres naturais”, provavelmente, você seja capaz de lembrar de uma cidade e população que foi atingida por algum evento natural. Não raros, eles ocorrem frequentemente em várias regiões do mundo, incluindo nosso país e nossa região (Vale do Itajaí). É comum a mídia noticiar os desastres naturais e mencionar as perdas ocorridas; a intensidade do evento natural; se houve feridos e mortos e, como é possível ajudar os atingidos, com os mantimentos e com a solidariedade. Mas e depois que o desastre deixa de ser notícia? Será que a solidariedade é a melhor saída aos atingidos? E antes de ocorrer o desastre, poderia ter sido feito algo para ser evitado? 

Diante de tantas perguntas, me cabe, como geógrafa e pesquisadora sobre desastres socioambientais, trazer algumas reflexões a respeito. Esta crônica busca ir além dos números de ocorrência e da fatalidade atribuída, muitas vezes, somente ao fenômeno natural. Mas, abordar sobre a complexidade envolvida e refletir criticamente sobre a redução dos riscos de ocorrência de um desastre. 

Do ponto de vista ambiental, os fenômenos naturais como os terremotos, ciclones, furacões, vendavais, secas, entre outros, ocorrem no planeta Terra periodicamente, com maior ou menor frequência, considerando as distintas características geográficas. Além disso, os relatórios do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas) nos alertam para um aumento na ocorrência dos eventos externos em um cenário de mudanças climáticas, tanto a nível global como nacional e local.  

Com o aumento dos eventos externos, sempre seremos reféns da ocorrência de desastres? Nós não precisamos ser! Podemos criar estratégias mais eficazes para lidar com os eventos que nos atingem, ocupar melhor o espaço terrestre, criar e utilizar tecnologias eficientes para reduzir os riscos de ocorrência de um desastre, entre tantas outras possibilidades. É indispensável compreender que há aspectos sociais, econômicos e políticos que, também, influenciam na ocorrência e/ou na magnitude dos danos de um desastre socioambiental. 

É importante compreender que para reduzirmos o risco de ocorrência de um desastre se faz necessário buscar um conjunto de ações de prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação. Assim, precisamos “olhar” para os períodos: antes, durante e após a ocorrência de um desastre, criando possibilidades para reduzir os riscos de ocorrência e minimizar os danos de um evento perigoso. 

É relevante identificar e analisar quais são os desastres que atingem uma determinada cidade ou região, quais são as características desses eventos perigosos e como é possível prever sua ocorrência.  Além disso, precisarmos identificar quem são as pessoas mais atingidas, sua localização e os fatores que condicionam a maior vulnerabilidade dessas pessoas.  Todas essas informações e análises são importantes de serem levantadas antes de um período de desastre. 

E quando temos a previsão de um evento perigoso ocasionar um risco de desastre (como deslizamentos, enchentes, vendavais, seca), a população que será atingida precisa saber como lidar com esse perigo e reduzir os seus danos. Para tal, devemos criar estratégias para lidar com os diferentes eventos perigosos que nos atingem de modo que provoque o menor impacto possível. 

Durante a ocorrência de eventos perigos, deve-se desocupar as residências que são mais atingidas? Quando desocupar? Para onde a população deve ir? As respostas dessas perguntas são construídas a partir de estratégias elaboradas e implementadas com o objetivo de reduzir os impactos de um evento perigoso. Elas mudam de acordo com o evento climático, com as características geográficas do local e com a população atingida. De modo que, as estratégias utilizadas durante um caso de enchente serão diferentes daquelas utilizadas em um vendaval ou em um período de seca.  

Após a ocorrência do desastre é necessário estruturar e implementar medidas para a recuperação da população que foi atingida. Deve ir além de uma recuperação financeira, mas é importante criar e efetivar medidas de mitigação a esse evento perigoso, tendo em mente estratégias para reduzir a ocorrência de um futuro desastre. Que mudanças são necessárias de serem feitas para diminuir a ocorrência e o impactos daquele fenômeno (natural ou não) que causou o desastre? 

Nem todas as respostas estão prontas e definidas, não “há uma receita de bolo”, elas precisam ser elaboradas e implementadas de acordo com a realidade local/regional, no âmbito social, econômico, científico e político. Diante disso, verifica-se que temos muito para avançar na redução do risco de um desastre no país. É necessário ir além da previsão do evento e da contagem dos danos ocorrido durante o desastre. Deve-se criar estratégias para a prevenção, mitigação, preparação, resposta e recuperação de um desastre. Elaborar e implementar planos de gestão do risco tanto a nível nacional como local, pautados nos itens anteriormente descritos. Por isso, é importante os avanços científicos e uma organização política pautada na redução dos riscos de ocorrência dos desastres socioambientais, sem perder de vista a relevância da organização social diante disso. Visto que, as decisões e mudanças que tomamos no passado e no presente são capazes de ampliar ou reduzir o impacto dos futuros desastres. Diante desse cenário, como cidadão (ã), que ações você é capaz desenvolver em sua cidade/bairro a fim de reduzir os riscos de um desastre?

Kátia Spinelli, doutora em Geografia; professora e coordenadora de curso na UNIASSELVI

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