Fazia tempo que dois assuntos não apresentavam tamanha divergências nas informações e, portanto, nas narrativas apresentadas. A operação da barragem Norte e a questão indígena na Reserva Duque de Caxias trazem a cada dia fatos e situações novas, que em muito contradizem notícias já veiculadas.
Nesta segunda-feira entrevistamos o vereador Carlos Wagner, o Alemão (União), empresário, que na condição de voluntário, com uma pequena equipe montada por ele, foi o responsável pelo fechamento das comportas da barragem Norte no domingo retrasado e agora, no último domingo, pela abertura de uma delas, numa operação voluntariosa, mas que revela um amadorismo impressionante dos órgãos responsáveis.
Carlos Wagner é um entendido de diques e contenção, mas não um especialista. Fez o que fez dentro de uma concepção de que se não fizesse Blumenau receberia dois metros a mais de água na enchente que vivemos na semana passada e recebeu o apoio do empresariado da cidade e teve o aval da Defesa Civil do Estado.
Mas, nesta segunda-feira, o hidrólogo Ademar Cordero, professor aposentado e durante anos responsável pelo CEOPS, falou que o fechamento, no dia e da forma que foi feito, foi desnecessário. O CEOPS era o Centro de Operações do Sistema de Alerta da Bacia Hidrográfica do Rio Itajaí-Açu, que durante muitos anos forneceu informações para a tomada de decisões das Defesas Civis e alerta antecipado da população potencialmente atingida. O órgão foi extinto em 2022.
Ademar Cordero é uma referência estadual no tema e, numa fala gravada pela professora Elsa Bevian, coordenadora do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da FURB, disse que o fechamento das duas comportas, naquele sábado, 7, “não foi sensato”, afirmando que não justificava a operação com o nível de águas naquele estágio, intimidando e levando medo para a comunidade indígena. Afirmou que só serviu para diminuir em meio metro o volume das águas em Blumenau. Para ele, o fechamento só teria sentido se feito antes da enchente propriamente dita e não naquele momento.
Assim como as autoridades e envolvidos, o jornalismo também está sendo colocado em xeque neste momento de tensões elevadas. De nossa parte, como em todos os assuntos, procuramos ouvir todos os lados e é o que temos feito.