Opinião | Bola oito – parte IV: o cooperativismo

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No artigo anterior, intitulado “Bola oito – parte III: capital social”, afirmamos que o fundamento explicativo do desenvolvimento catarinense se explica a partir do seu capital social – e a capacidade de cooperar é seu maior ativo. Demonstração disso é o fato de que Santa Catarina já ocupa a liderança no número de cooperados no Brasil. Conceito desprezado nas ciências sociais brasileiras, a cooperação é um fator central na biologia evolutiva e no neodarwinismo sociológico, tendo no cooperativismo seu traço mais visível. Exemplos sobram.

O cooperativismo é um traço decisivo do desenvolvimento de qualquer sociedade e nos leva a reforçar o argumento com exemplos que, bem no fim, nos levam, sempre, a conexões explicativas mais à frente. Uma dessas conexões é a que sugere que capital social e capital humano são convergências, da mesma forma que cooperação e competitividade. Essa conjunção é perfeitamente cabível no cooperativismo e a devida compreensão disso deveria estar nos bancos escolares e nos currículos universitários. Sem explanar isso, as ciências sociais estão desperdiçando um ensinamento precioso aos nossos jovens.

Partindo do pressuposto de que o fator original do desenvolvimento de Santa Catarina é o seu capital social, afirmamos que esse fenômeno tem ao menos dois tipos. O primeiro reside na ideia de “pegar junto”, implicando na cooperação direta. O segundo reside na ideia de que “cada um faz a sua parte” pensando no todo. É dessa parte do capital social que nasce o capital humano, é seu vínculo umbilical com o capital social. E é de onde se origina a competitividade, porque cada um pode, e com frequência deseja, desempenhar melhor a sua tarefa na composição e manutenção do todo. É self, mas é coletivo.

Conquanto pareça impossível dizer se o ovo vem antes da galinha, precisamos de um ponto de partida. Nesse sentido, podemos pressupor que a primeira necessidade do homem contemporâneo é sobreviver e a segunda evoluir. Essa conjunção impulsiva levou muitos colonos à primeira reunião comunitária que deu origem à Cooperativa Central Aurora, em Maravilha. Dali começa uma cooperativa local; passa o tempo, conta onze cooperativas: o resultado é uma empresa competitiva com 40 mil funcionários e uma sede na bela Chapecó.

Esse exemplo não vale apenas para o cooperativismo e, por contraditório que pareça, também explica o capitalismo. Todavia, se existem ao menos dois tipos de capital social, também existem dois tipos de capitalismo. E aqui estamos falando do capitalismo que vai dando certo, dentro do qual há um lugar ao cooperativismo e se expandindo. Se considerarmos que o fenômeno cresce aqui, como no Brasilzão e é característico dos países desenvolvidos, o cooperativismo é uma espécie de “bola oito” tal qual o estado de Santa Catarina.

Lembremos: o primeiro aspecto do capital social é “pegar junto”, não por puro altruísmo, mas pela necessidade de sobreviver e evoluir. A partir daí, já começa uma divisão social do trabalho, que gera a ideia-fato de que “cada um faz a sua parte”. Esse segundo aspecto do capital social é o que compatibiliza o sentimento de coletividade com o de individualidade. Existe, mais ou menos, em todas as sociedades, mas esse princípio elementar tem sido negado com sofisticada ignorância nas ciências sociais.

O cooperativismo é um assunto muito extenso e merece continuidade reflexiva nesta coluna. Basta dizer, por hora, que expressa muito bem o princípio da compatibilidade entre o coletivismo e a individualidade, a cooperação e a competição. E, a considerar o movimento de indivíduos que se agregam, geram um núcleo coletivo que se aproxima a outros, gerando organismos maiores, estamos nos encontrando com o princípio de número um da biologia: o da evolução, que gera a vida.

Quanto mais isso acontece em sociedade, maior é o desenvolvimento. É assim, interdisciplinarmente, que se explica o cooperativismo e é assim que podemos explicar o desenvolvimento de Santa Catarina.

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Walter Marcos Knaesel Birkner, sociólogo

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