Para especialista, mudanças climáticas exigirão adaptações no uso d’água

Foto: Vicente Schmitt/Agência AL

Para o pesquisador sênior do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), Jean Ometto, as mudanças climáticas exigirão adaptações das pessoas, das empresas e do agronegócio em relação ao uso da água. O alerta ocorreu durante o Fórum Brasil ODS 2023, que acontece nesta quinta (26) e sexta-feira, na Assembleia Legislativa.

“As mudanças recentes no clima são generalizadas, rápidas, estão se intensificando e são sem precedentes em milhares de anos. A humanidade está alterando o cobertor que temos no planeta, que é a atmosfera. Se com um lençol se sente um pouco mais de frio do que com uma coberta, quanto mais cobertores, mais reteremos calor embaixo deles. É o que está acontecendo, estamos aumentando a temperatura”, descreveu Ometto.

Segundo o pesquisador, estamos perto de atingir um aumento de 1,5º celsius na temperatura média global, possivelmente até 2030.

“A atmosfera, a biosfera, os oceanos, as terras firmes, todos esses grandes compartimentos influenciam no clima e todos eles estão mudando. Se ficar em 1,5º como o planeta vai responder? O solo é um baita compartimento para reter água, mas como vai ser a resposta da precipitação, das chuvas? Teremos problemas de armazenamento de água no solo, porque choverá menos do que vai evaporar. A parte norte da América do Sul tende a ter períodos de secas mais longos”, observou o professor do Inpe, acrescentando que “a parte Sul terá um aumento da precipitação relativa”.

Ometto observou que quanto maiores os períodos de secas, menor a capacidade do sistema de resistir aos impactos das mudanças.

“As geleiras nos Andes que derreteram não voltam a gelar mais; teremos o aumento do nível do mar, já que não se consegue enxugar o mar, como planejar? Temos de pensar na adaptação da vida, pensar forte em uma agenda de adaptação. A gente não consegue olhar para o futuro e dizer ‘quero outro futuro, este está muito caótico’. Temos de fazer alguma coisa. Vai despencar morro? Vai. Vai alagar? Vai. A pergunta é  como lidar com isso para poupar vidas e a infraestrutura?”, questionou Jean Ometto.

Gestão da água

O pesquisador do Inpe sugeriu aos catarinenses e aos gestores públicos perseguirem o uso racional da água.

“O cuidado com a água é super importante, desde o vazamento até um uso mais racional. Isso serve para vários recursos naturais, tem de buscar racionalidade no uso, reduzir as perdas e o desperdício”.

Ometto também destacou a importância da recuperação das áreas degradadas; de implantação de sistemas de irrigação mais eficientes; do uso de tecnologias para tratamento e reutilização da água; construção de infraestruturas mais resilientes; educação ambiental; e implantação de sistemas de informações ágeis e eficientes.

“É preciso informar as pessoas, é preciso difundir conhecimento”, ponderou o pesquisador.

No caso dos gestores públicos, municipais estaduais ou federais, Ometto recomendou a elaboração de um plano municipal, estadual ou regional de mitigação das mudanças climáticas.

“É preciso trazer as mudanças climáticas para as políticas públicas como um fato, e não ficar no negacionismo, é preciso trazer para o planejamento”, insistiu Ometto.

O debate continua

O Fórum Brasil ODS 2023 prossegue com uma mesa de debates composta pela diretora de Políticas Públicas da Fundação SOS Mata Atlântica, Malu Ribeiro; com Lindberg Nascimento Júnior, professor do Departamento de Geociências, da UFSC; Pakashanew Urukukuapã, indígena ativista ambiental; e Telma Krug, ex vice-presidente do IPCC.

Abertura concorrida

Participaram da abertura do Fórum o deputado Marquito (Psol); o chefe de gabinete da prefeitura de Florianópolis, Rafael Lima; o secretário adjunto da Secretaria de Meio Ambiente e Economia Verde, Guilherme Dallacosta; Gilson Sálvio Zimmermann, coordenador do Movimento ODS-SC; além de estudantes, pesquisadores e gestores públicos de vários municípios de Santa Catarina que praticamente lotaram o auditório deputada Antonieta de Barros.

Fonte: Agência Alesc

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