Opinião | 8 de janeiro: feliz ano velho

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Embora tenha sido uma das viradas de ano mais tranquilas dos últimos tempos na política e economia, não foi assim para todo mundo. Papai Noel, por exemplo, virou notícia por ter auxiliado em uma operação antidrogas no Peru, além de ter sido visto fazendo “ran-dan-dan” de moto em São Leopoldo, Rio Grande do Sul. Ainda sobre duas rodas, foi perseguido em alta velocidade pela polícia de Matão, São Paulo, e de trenó, finalmente teve o seu veículo apreendido em uma avenida de Salvador, Bahia. E tudo isso é verdade, basta procurar as notícias na internet.

A pé, também flagrado na madrugada, conversando em frente a uma casa noturna de Ribas do Rio Pardo, Mato Grosso do Sul. Por fim, parecia que o “bom velhinho” ainda participava das festividades em Teresina, Piauí, mas como ninguém é de ferro, quem estava fantasiado nesse caso era o prefeito, Doutor Pessoa (MDB).

Enfim, o Natal do Papai Noel só não foi mais corrido que o de entregar do iFood e só não foi mais estressante que o de Jesus. No caso do filho preferido de Deus, além de ter sido a primeira criança da história a ganhar apenas um presente por nascer em dezembro, esse ano não teve festa em Belém, Israel, por causa da guerra. No dia 25, até pareciam fogos, mas eram mísseis no céu da Terra Santa.

No mais, o Ano Novo chegou em uma segunda-feira para dar o exemplo, lembrando a todos que não ganharam na Mega da Virada, que a vida segue e dia 10 está logo aí.

Adeus Ano Velho?

Como prova de que tudo foi tranquilo, o assunto da primeira semana de trabalho em Brasília foi de 2023: o vandalismo cometido no Supremo Tribunal de Justiça (STF), Congresso Nacional e Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro. Em evento realizado para celebrar um ano da data, quem precisa dos votos bolsonaristas arranjou a sua desculpa para não comparecer. Esse foi o caso do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), além dos governadores Ibaneis Rocha (MDB), Tarcísio de Freitas (Republicanos), Ratinho Junior (PSD) e Romeu Zema (Novo).

Na solenidade, mais do mesmo: todos condenando o que é condenável. Porém a reflexão do quebra-quebra vai além do prejuízo material: é só quando a economia vai mal que os radicais chegam ao poder.

Se ainda é necessário que o governo tenha programas que auxiliem a população a progredir, o limite para essas iniciativas é o que o orçamento do governo consegue pagar. E se é pouco, está aí mais uma motivação fazer a economia funcionar porque, quanto mais rico é um país, mais o governo pode ajudar quem precisa. Quem ignora isso, abre espaço para quem deseja resolver tudo do dia para a noite, não raro, sob a ameaça de violência.

Na Argentina, por exemplo, o novo governo propôs não apenas uma, duas, cinco ou 10, mas 300 emendas na constituição de uma vez. É quase outra constituição. É tanta coisa que eles têm chamado o decreto de “lei ônibus”.  Obviamente, a coisa já foi para a justiça, mas o governo deu a sua satisfação para o eleitor e, daqui para frente, tudo o que não conseguir fazer é “culpa do sistema”. Está feita a receita para a confusão. E aí, como fica?

Na semana em que se refletiu sobre o quebra-quebra de tanta gente com a camisa amarela, a morte do ex-técnico Zagallo lembra a população que aquele é apenas o uniforme da seleção brasileira. Acima da politicagem que envolve essas solenidades, que une inclusive gente que até outro dia era rival, como Alckmin, Lula e Alexandre de Moraes, até nisso existe um lado positivo: política não é lugar para inimigos, mas de adversários, que podem concordar ou discordar.

O país ainda não tem muita ordem, mas aqui e ali, existem progressos.

Fernando Ringel, jornalista e professor universitário

1 Comentário

  1. Alckmin chamou Lula de ladrão em cadeia nacional, não são inimigos, são farinha do mesmo saco.

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