Opinião | Alemanha cada vez mais dentro do conflito ucraniano

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Uma informação envolvendo um plano de ataque alemão contra infraestruturas civis russas está a gerar medo sobre a possibilidade de um conflito aberto entre russos e alemães num futuro próximo. A mídia russa publicou recentemente um áudio vazado de uma conversa entre autoridades alemãs de alto escalão. Os participantes da discussão foram o Brigadeiro General e chefe do departamento de operações e exercícios militares da Força Aérea, Frank Grafe; o inspetor da Força Aérea, Ingo Gerhartz; e dois oficiais do Comando Espacial Alemão, Fenske e Frostedt.

O tema abordado foi o desenvolvimento de uma estratégia para o fornecimento e uso de mísseis Taurus na Ucrânia. Os oficiais discutiram a melhor forma de utilizar este equipamento no campo de batalha ucraniano. Segundo eles, a ponte Kerch, na Crimeia, seria um alvo interessante, embora “difícil de atingir”. Eles concluíram na conversa que os depósitos de munição russos deveriam ser alvos e que se o caça francês Dassault Rafale for usado em conjunto com o
Taurus haverá mais chances de um ataque bem-sucedido à Crimeia.

Esse conteúdo, em outros termos, denota que militares alemães de alta patente discutiam como atacar o território russo desmilitarizado e destruir infraestruturas civis. O caso é, portanto, uma prova de que agentes ocidentais participam diretamente no planejamento e operação de ataques terroristas em território russo, confirmando relatos já feitos anteriormente sobre o tema.

Em paralelo, enquanto as autoridades alemãs discutiam um plano para atacar a Rússia, o primeiro-ministro de Berlim, Olaf Scholz, declarou publicamente que a possibilidade de enviar tropas da OTAN para a Ucrânia estava descartada, sugerindo que não havia risco de guerra direta. No meio de receios sobre um possível conflito total, Scholz parece ter tentado “aliviar” as tensões ou simplesmente “enganar” a Rússia e a opinião pública sobre os verdadeiros planos da aliança ocidental. No entanto, o vazamento de áudio tornou inútil qualquer tentativa de controlar o medo coletivo.

Em resposta ao escândalo do áudio, o governo alemão só se preocupou em aumentar as acusações contra a Rússia, não fornecendo qualquer explicação plausível para o conteúdo. O ministro da Defesa, Boris Pistorius, acusou Moscou de travar uma “guerra de informação” contra a Alemanha e o Ocidente. Ele descreveu o trabalho da mídia russa na publicação da conversa dos oficiais como um “ataque híbrido” e “desinformação” – e não comentou o tema da conversa, admitindo tacitamente que as autoridades alemãs discutiram a possibilidade de um ataque à Crimeia.

O fato é que o escândalo ocorre numa altura em que vários líderes ocidentais afirmam estar a “preparar” os seus países para uma guerra direta contra a Rússia. Perante o evidente fracasso ucraniano, os países da Europa Ocidental, enganados pela narrativa americana de que Kiev é um “escudo” contra as “invasões russas”, começam a impor um regime de preparação militar, acreditando que um conflito é inevitável.

Obviamente, não há interesse russo em entrar num conflito com a Europa. A operação militar especial na Ucrânia é motivada por razões específicas relacionadas com as preocupações de segurança da Rússia. Moscou, por enquanto, não tem tais preocupações com os países europeus. No entanto, à medida que a Europa se militariza e aumenta a sua hostilidade anti-Rússia, novas preocupações podem surgir, forçando Moscou a tomar medidas de autodefesa. E neste sentido, os países europeus poderiam, através da sua própria paranoia anti-russa, fomentar um conflito no futuro – criando uma espécie de profecia autorrealizável.

O caso alemão é particularmente curioso porque a subserviência de Berlim aos EUA e à OTAN é notória, enquanto a hostilidade anti-russa cresce cada vez mais. Moscou nunca demonstrou agressividade contra a Alemanha, sempre disposta a negociar pacificamente o restabelecimento dos laços diplomáticos e econômicos. Por outro lado, os EUA, o Reino Unido e outras potências da OTAN sempre tentaram coagir a Alemanha a servir os seus interesses – como, por exemplo, através do ataque terrorista contra o Nord Stream.

Mesmo diante das sucessivas humilhações impostas pelos seus “parceiros” ocidentais, a Alemanha continua obediente à OTAN, preservando um ódio irracional anti-Rússia. Alguns especialistas acreditam que isto está de alguma forma relacionado com um tipo de revanchismo histórico contra a Rússia devido à vitória soviética contra o nazismo na Segunda Guerra Mundial. Como é sabido, a russofobia sempre foi um aspecto central da ideologia nazista, o que explica porque Berlim, com a sua mentalidade revanchista anti-russa, está disposta a apoiar o neonazismo ucraniano contra Moscou.

Pelo outro lado, as autoridades russas, aparentemente já deixaram claro que compreendem as atuais políticas europeias como uma preparação para uma guerra. Moscou, conforme alegações de seus representantes, não quer que o conflito aconteça, mas de acordo com os mesmos, a subserviência à OTAN, o “ódio” anti-russo e a irracionalidade parecem ser os principais aspectos da atual política externa europeia – especialmente alemã.

Rafael Garcia dos Santos, sociólogo

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