Que espaço lindo é este que contorna 7.367 km do Brasil, ou quase 10 mil quilômetros se considerar as reentrâncias. Escrevo no singular mesmo e repito: que espaço lindo! Cada um de nós tem em sua memória uma faixa de areia que gosta de contemplar, um amor de verão que ficou no tempo, no mar.
Nesta imensidão costeira, com diversas sutilezas que distinguem cada praia, o brasileiro foi descoberto e construído lentamente. Cada onda que arrepiava as pedras, banhava as restingas, invadia os mangues, desafiava as dunas, deixou para nós um legado e, de certa maneira, aproximou o lazer gratuito, refrescante, contemplativo.
Como as conchinhas, de múltiplas formas, cores e tamanhos, o convívio na praia é também plural. Não é exagero dizer que nenhum outro país possui tanta diversidade no seu litoral. Se a costa é formada por dunas, ilhas, recifes, costões rochosos, baías, estuários, brejos e falésias, o compartilhamento do uso do espaço é público. Diz a sabedoria popular que a praia é democrática. E é mesmo!
Dá para curtir a estética da natureza ou, ainda, esta mistura de gente de todas as bandeiras, religiões e pensamentos. Na praia, a pele negra, ou bronzeada – como queira –, é a realeza que impera. Um dos únicos espaços de bagunça gostosa, onde menos roupa significa mais liberdade e igualdade. A falta de tecido – ou a existência de pouco dele – ajuda a igualar as pessoas.
Mas até esta relação que parece inseparável entre o brasileiro e o litoral pode encontrar um ponto final. Um projeto de emenda constitucional, a PEC 3/2022, liderado por Flávio Bolsonaro (PL), pode golpear também a democracia da praia e transformar em ambiente privado a faixa de areia onde pobres e ricos se encontram, descalços, para relaxar. A proposta prevê que todos os terrenos que têm o mar como limite passem a “receber” aquele domínio de praia como propriedade privada.
Vamos imaginar a aprovação da proposta. Algumas das paisagens seriam radicalmente alteradas. A cidade de Penha, por exemplo, está há algum tempo buscando implementar um parque linear à beira-mar. Além dos questionamentos ambientais que uma intervenção como essa levanta, o poder público enfrenta a resistência dos donos de casas e comércios estabelecidos no acesso à faixa de areia. Não é difícil imaginar que, com a nova alteração na constituição, os moradores escolham impedir o acesso público e, assim, uma das praias mais frequentadas pelos blumenauenses e moradores do Médio Vale se tornaria exclusiva para alguns.
O passeio à praia de Penha, uma atividade tão simples e acessível, pode ser apenas uma lembrança nostálgica. Se a PEC 3/2022 passar, a praia pode deixar de ser esse espaço democrático onde todos, independentemente de classe social, podem aproveitar a beleza e a liberdade do litoral brasileiro. É um futuro incerto e, para muitos, injusto. Quem sabe, em breve, o horizonte ensolarado de Penha possa ser visto apenas através de cercas e portões, onde um dia foi uma faixa de areia aberta e acolhedora para todos. Ainda é tempo de manifestações contra a proposta. Entre no site do Senado, mostre sua contrariedade para os parlamentares e contribua para manter público o acesso a todo litoral brasileiro.
Tarciso Souza, jornalista e empresário
Isto chama-se fake news. divulgar notícias falsas .
A PEC é para União não ter mais propriedade exclusiva sobre terrenos de marinha.
Isto não significa que a faixa de areia será exclusiva.
Bem o disse Einstein:
“Duas coisas são infinitas: o universo e a estupidez humana. Mas, em relação ao universo, ainda não tenho certeza absoluta”
A sanha dos politicos eleitos pelos donos do capital só não é maior que a ignorância de quem os elege e reelege!!