Alunos das escolas municipais de Blumenau tem alto índice de sobrepeso e obesidade, aponta pesquisa

Foto: Redes Sociais

Um estudo inédito realizado por pesquisadoras da Universidade Regional de Blumenau (FURB) revelou que 31,3% dos adolescentes entre 10 e 15 anos matriculados nas escolas municipais de Blumenau apresentam excesso de peso. Entre eles, 18,2 % estão em sobrepeso, 11,3% apresentam obesidade e 1,8% possuem obesidade grave. A pesquisa foi realizada pela pesquisadora Angélica Frizon Krindges Ludwig, sob orientação da professora Luciane Coutinho de Azevedo, no âmbito do Mestrado em Saúde Coletiva da FURB, e avaliou o estado nutricional de 675 adolescentes matriculados em escolas municipais de todas as macrorregiões de Blumenau. Ainda de acordo com o estudo, 65,4% dos adolescentes que participaram da pesquisa encontram-se em eutrofia, isto é, em estado de normalidade do ponto de vista nutricional, 3% apresentam magreza e 0,3% dos adolescentes estudados estão em situação de magreza extrema.

As maiores prevalências de excesso de peso foram encontradas entre os adolescentes da faixa etária mais jovem estudada (entre 10 e 12 anos) e entre as adolescentes do sexo feminino pós-púberes, isto é, que já haviam completado o processo de maturação sexual característico da puberdade. Além disso, a pesquisa permitiu identificar a existência de dois fatores preditores, ou seja, fatores que tornam o indivíduo mais propenso a desenvolver excesso de peso. Entre as meninas, o fator preditor para o excesso de peso foi a ocorrência da primeira menstruação entre 8 e 10 anos; enquanto entre os meninos, o fator preditor foi estudar no turno matutino. Em outras palavras, meninas que tiveram a primeira menstruação mais cedo e meninos que frequentam a escola no período da manhã apresentaram, a partir dos achados da pesquisa, maior propensão ao excesso de peso.

A relação entre o excesso de peso e a idade da primeira menstruação é um aspecto já presente na literatura especializada, como destaca a autora da pesquisa, Angélica Frizon Krindges Ludwig: “Existem vários estudos já relacionando a idade da menarca e a prevalência do excesso de peso. O que nós encontramos nos achados na pesquisa da literatura é que ela pode estar relacionada com excesso de peso já anterior à idade da menarca, mas que ela também pode ter influência na adiposidade das mulheres na vida adulta”.

Ainda que o estudo não tenha avaliado o sono dos adolescentes, as pesquisadoras acreditam que a associação entre apresentar excesso de peso e estudar no turno matutino pode estar relacionada à qualidade de sono dos estudantes. Luciane Coutinho de Azevedo, orientadora da pesquisa e professora titular do Mestrado em Saúde Coletiva da FURB (PPGSC-FURB), explica que a liberação de hormônios no corpo humano é regulada pelo sistema circadiano, influenciado pela presença ou ausência de luz solar: “Eu tenho aumento de alguns hormônios no período matutino e diminuição no período noturno, aumento de alguns hormônios no período noturno e diminuição no período matutino. Quando você desajusta o seu horário de sono, isso em longo prazo favorece o aparecimento de uma série de doenças, entre elas a obesidade”. As pesquisadoras acreditam que o fato de terem que acordar cedo para ir à escola pode estar levando os meninos a dormirem menos ou ter uma qualidade sono pior do que as meninas. Tal suposição, no entanto, demanda estudos adicionais para ser verificada.

Os resultados da pesquisa foram divulgados no dia 16 de maio, em banca pública de defesa de dissertação, no Campus 3 da universidade. Trata-se do primeiro estudo populacional realizado com rigor científico para avaliar essa população específica no município de Blumenau. Ludwig explica que estudos de base populacional com adolescentes são normalmente realizados em capitais ou cidades de grande porte, além de não serem conduzidos com frequência. A realização de pesquisas em cidades não contempladas por grandes estudos nacionais é importante para revelar particularidades locais e permitir o desenvolvimento de ações direcionadas à realidade concreta. A autora do estudo destaca, ainda, que pesquisas anteriores relacionadas ao tema foram realizadas antes da pandemia de Covid-19, que é considerada um marco na saúde pública global por ter alterado as condições de vida da população, o que reforça a necessidade de avaliar as condições atuais de saúde dos adolescentes.

Na avaliação das pesquisadoras, os índices de sobrepeso e obesidade revelados pela pesquisa são elevados e exigem ações imediatas. O índice geral de 31,3% de adolescentes com excesso de peso encontrado pelas pesquisadoras é superior ao descrito em estudos de base nacional e estudos populacionais regionais publicados em 2014 e 2015. Ludwig ressalta, no entanto, que a Pesquisa Alimentar Brasileira, publicada em 2018, revelou um índice de 32,3% de excesso de peso entre os adolescentes, ligeiramente superior ao percentual identificado entre os adolescentes da rede municipal de Blumenau. As pesquisadoras enfatizam que tais estudos costumam apresentar variações regionais, o que reforça a importância de realizar pesquisas com foco nas realidades locais.

A escolha por estudar a faixa etária de 10 a 15 anos deve-se à necessidade de identificar precocemente os casos de excesso de peso, de modo a permitir intervenções antes que haja um agravamento do quadro ou o desenvolvimento de doenças crônicas associadas. Conforme explica Azevedo, “estudar de 10 a 15 aumenta a nossa oportunidade de mudança. É o momento em que ele ingressa, está se encaminhando para a idade adulta e há um amadurecimento biológico, psicológico e comportamental muito importante nessa fase da vida”. A orientadora da pesquisa destaca, ainda, que as condições atuais de saúde dos adolescentes não apenas impactam a vida adulta desses indivíduos, mas também as condições de saúde das gerações futuras, como amplamente demonstrado pela ciência.

A pesquisa é um dos desdobramentos do trabalho realizado pelo Grupo de Estudos em Condições Crônicas na Infância e Adolescência (GECCIA), que atua desde 2000 no âmbito do Programa de Pós-Graduação em Saúde Coletiva da Universidade Regional de Blumenau (PPGSC-FURB) por meio da realização de estudos das condições de vida e saúde de pessoas com doenças crônicas, com foco na infância e adolescência. Com os resultados da pesquisa em mãos, as pesquisadoras pretendem voltar às escolas para compartilhar o conhecimento produzido com a comunidade escolar, além de produzir material educativo sobre alimentação, exercício físico e qualidade do sono a ser distribuído para os adolescentes das escolas municipais de Blumenau.

Como a pesquisa foi realizada

A pesquisa realizada por Ludwig consiste em um estudo populacional de base escolar com delineamento transversal, tipo de pesquisa comumente usada na área da saúde para identificar a prevalência de uma condição em uma determinada população e identificar associação entre variáveis. Uma pareceria já consolidada entre o Grupo de Estudos em Condições Crônicas na Infância e Adolescência (GECCIA/PPGSC-FURB) e a Secretaria Municipal de Educação de Blumenau permitiu a inserção da pesquisadora no ambiente escolar para a coleta de dados. A escolha das escolas foi realizada aleatoriamente, de modo a contemplar todas as macrorregiões de Blumenau, assim como a escolha das salas de aula em que os estudantes seriam convidados a participar. Os dados foram coletados a partir de uma amostra representativa composta por 675 adolescentes, que tiveram peso e estatura aferidos, além de responderem a questionários para o fornecimento de informações sobre variáveis biológicas e sociodemográficas, tais como sexo, idade, turno escolar e nível de maturação sexual, além da idade da primeira menstruação, no caso das meninas.

Tanto os adolescentes quanto seus pais ou responsáveis assinaram termos de consentimento para a realização da pesquisa. O estudo foi realizado exclusivamente com adolescentes matriculados na rede municipal de Blumenau, de modo que não se recomenda a generalização de seus resultados para toda a população de adolescentes do município, tendo em vista que estudantes das redes privada e estadual não foram incluídos.

Fonte: FURB

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