Opinião | IDEB 2023 – parte I: foi previsto

Foto: reprodução

Os resultados do último Índice de Desenvolvimento da Educação Básica – IDEB 2023 – confirmam o paradoxo que prenunciamos nesta coluna em artigos anteriores: enquanto sobe nos índices de produtividade, Santa Catarina despenca no ranking da Educação. É só comparar com o IDEB 2021 que isso se comprova e o problema se concentra no Ensino Médio, cuja responsabilidade executiva é do governo estadual. E, nessa discussão, o secretário de Educação entra mudo e sai calado.

O Ideb é realizado bianualmente e representa o principal indicador da qualidade educacional do Brasil. É calculado a partir de dois componentes: a taxa de rendimento escolar (aprovação) e as médias de desempenho nos exames aplicados pelo Inep, denominados de Prova Brasil. Tem o lado bom, qual seja, o fato de que o desempenho do Brasil melhorou e atingiu finalmente a meta nos anos iniciais, estabelecida desde os anos noventa. O lado ruim é que Santa Catarina continua caindo no ranking. 

A comparação cronológica assusta, porque sempre estivemos no topo. Nas edições de 2017, 2019 e 2021, na média geral, dividíamos o pódio com Ceará e São Paulo, mas, em 2023, despencamos. Agora, a parte atenta da Sociedade precisa se perguntar como descemos tão rapidamente e o que é necessário para nos recuperarmos. Até pouco, a classificação de Santa Catarina era digna do que representamos, no País, em termos de desenvolvimento. Governo e Sociedade organizada precisam se mobilizar.

Existem três etapas da formação que, avaliadas e somadas, compõe a média geral. A primeira etapa são os anos iniciais (de 1ª a 5ª séries); a segunda etapa é das séries finais do Ensino Fundamental (de 6º ao 9º anos); e a terceira corresponde ao Ensino Médio. As duas primeiras são responsabilidade predominante dos municípios. Enquanto isso, o Ensino Médio é responsabilidade executiva do governo estadual e, aqui e ali, do governo federal.

Como já demonstramos nesta coluna, através do artigo “A greve na educação – parte III: o modelo educacional e o exemplo do Ceará”, no IDEB de 2021, figurávamos em 1º lugar nos anos iniciais do Ensino Fundamental, e nos anos finais estávamos entre os três primeiros, desde seguidas edições. Isso manteve nossa média geral alta, nos fazendo permanecer no pódio nacional. O governo estadual gabou-se disso, demonstrando preocupante desconhecimento sobre como se compõe o IDEB, porque no Ensino Médio já caíamos para 9º lugar. 

Agora, anunciado o IDEB 2023, a coisa ficou feia mesmo, porque nos anos iniciais, saímos do primeiro para o 4º lugar; nos anos finais, caímos do 3º para o 6º lugar, empatados com o Piauí – que melhorou muito. Só que, no Ensino Médio, caímos mais ainda e estamos abaixo da média nacional pela primeira vez em toda a série histórica. Nos encontramos atualmente empatados, entre o 11º e o 14º, beirando a “segunda divisão” – com o perdão da troça, mas parecia algo impensável anos atrás. 

Lembremos, ainda uma vez: historicamente, Santa Catarina ocupava o pódio, isto é, classificado entre os três primeiros em várias edições. Pois, somando as notas de cada etapa de formação, isto é, anos iniciais (6,4), anos finas (5,2) e do Ensino Médio (4,2), caímos para o 6º lugar. O leitor pode ver as tabelas abaixo e tirar suas conclusões. 

Enquanto isso, o silêncio do secretário da Educação, assim como do governador, é sombrio e preocupante. Nenhuma palavra, nenhum plano, nem compromisso, me levando a indagar se é por desinteresse ou desorientação? Como pode, num debate desses, um governador, um secretário de Educação, entrar mudo e sair calado?  Bom: já que o governo não se manifesta, apresentarei alguns argumentos na semana seguinte, apontando direções causais e alternativas ao problema. Porque não é possível permanecer omisso ante um problema desses.

Séries iniciais EF – BRASIL 6,0

1 PR 6,7
2 CE 6,6
3 SP 6,5
4 SC 6,4

Séries finais EF – BRASIL 5,0 (5,5)

1 PR 5,5
2 CE 5,5
3 GO 5,5
4 SP 5,4
5 ES 5,3
6 SC 5,2
7 PI 5,2

Ensino Médio BRASIL  – 4,3 (5,2)

1 PR 4,9
2 GO 4,8
3 ES 4,8
4 SP 4,5
5 PE 4,5
6 PI 4,5
7 MT 4,4
8 PA 4,4
9 CE 4,3
10 TO 4,2
11 MG 4,2
12 RS 4,2
13 SC 4,2
14 DF 4,2

Média Geral – BRASIL 5.0

1 PR 5,7
2 GO 5,5
3 ES 5,3
4 CE 5,3
5 SP 5,3
6 SC 5,2
7 DF 5,2

Walter Marcos Knaesel Birkner, sociólogo, autor do livro “Sociologia Produtiva: BNCC, desenvolvimento e interdisciplinaridade”

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