Opinião | A disputa por like e voto: redes sociais darão resultado eleitoral?

Imagem: reprodução

Faltando duas semanas para o primeiro turno das eleições municipais eu posso, sem medo de errar, cravar que não existe um único candidato tranquilo. Todos carregam, neste momento, mais que suas bandeiras, propostas e convicções: junto de cada um a dúvida sobre o que as urnas revelarão em 6 de outubro. Em tempos como este, que o exercício da democracia passou para uma prática diária, nas ruas e no universo digital, as áreas de enfrentamento ficaram mais complexas. De debates acalorados nos palanques, em emissoras de rádio e TV, agora batalhas mais intensas são travadas em posts de Instagram e vídeos curtos no TikTok. E, para cada um que gosta do assunto “política”, surge a questão: o esforço massivo de candidatos para acumular likes, engajar seguidores e bombar nas redes sociais, se converterá em votos nas urnas?

Uma das grandes questões que envolvem as campanhas atuais é se o show digital realmente move o eleitor. Fazer reels, participar de desafios de dança, lançar “trends” e pedir compartilhamentos são práticas frequentes entre os candidatos. Essas ações trazem uma sensação de proximidade e popularidade, mas será que a viralização de um vídeo garante o resultado, a eleição?

Todos os partidos e seus candidatos estão, neste momento, observado atentamente o que ocorre na disputa para prefeitura de São Paulo, a maior do país e uma das maiores do mundo. Lá, o candidato a prefeito Pablo Marçal, do PRTB, que tem apostado fortemente no carisma, na produção de conteúdo digital, na confusão e nas estratégias que garantem a ele o título de maior vendedor de produto digital do Brasil. Ao explorar o impacto de suas redes sociais na campanha paulista, questiona-se: o que ele está entregando nas redes realmente vai traduzir-se em votos? A resposta não é simples. Embora os números impressionem, há uma desconexão evidente entre curtidas e engajamento nas plataformas e a verdadeira vontade eleitoral.

É indiscutível que as redes sociais mudaram a forma de fazer política, mas ainda paira a dúvida se elas conseguem refletir fielmente o cenário eleitoral. Ferramentas como o Mlabs, por exemplo, têm sido usadas para monitorar o desempenho dos candidatos no mundo digital. Eu utilizei a plataforma para fazer uma avaliação do Instagram dos postulantes para Prefeitura de Blumenau, que é a rede social mais utilizada pelos usuários locais. O recorte temporal desta minha pesquisa compreende o período de 1 de agosto até o dia 21 de setembro. Os resultados têm revelado um panorama interessante.

A candidata do PT, Ana Paula, é a que mais posta conteúdo. A média é de 20,1 postagens por semana. Volume que é seguido por Odair Tramontin (12,4), Advogada Rosane (10,5) e Delegado Egídio (10,3). Alba é o que tem a menor média de postagem, com 7,8 por semana. O formato mais escolhido pelos candidatos é o reels, representando 73% dos conteúdos gerados, comprovando que a rapidez e a estética dos vídeos curtos são o grande trunfo da campanha digital atual. Mas será que essa quantidade de conteúdo realmente ajuda a convencer o eleitor?

Bom, também é possível imaginar o envolvimento das pessoas com cada uma das postagens dos candidatos. Neste recorte avaliado, juntos, todos os conteúdos destes candidatos já somaram mais de 25 mil comentários e 200 mil curtidas no Instagram. Os dados da plataforma revelam ainda que, se considerar os seguidores, as curtidas e comentários de cada candidato, Odair Tramontin, por exemplo, destaca-se como o que encontra o melhor desempenho nas redes. Neste critério o engajamento dele chega a 2,55% do seu público.

Embora tenha menos postagens semanais que Ana Paula, a qualidade e o timing de das publicações do candidato do Novo parecem estar alinhados com as expectativas do público. Odair Tramontin é seguido muito de perto por Advogada Rosane, com 2,5%. O candidato do PL, Delegado Egídio, aparece na terceira posição com 1,59%, com Ana Paula em quarto, engajando 1,26% do seus seguidores e o candidato do Podemos, Ricardo Alba, com 0,55%.

Quando analisamos os números absolutos, o cenário muda um pouco. O candidato do PL, com 67,3 mil curtidas e 9,6 mil comentários, lidera o ranking de interações no Instagram, seguido por Ana Paula (63,8 mil curtidas e 8,9 mil comentários) e Tramontin (52,7 mil curtidas e 5,2 mil). A candidata do Psol, Advogada Rosane (11,2 mil curtidas e 1,1 mil comentários) ocupa a quarta colocação neste ranking e Alba (6,2 mil curtidas e 489 comentários) fecha este critério. Esses dados, por mais volumosos que sejam, ainda não representam um indicativo de sucesso nas urnas, visto que as interações digitais podem refletir apenas uma fração do eleitorado.

Há, também, os casos em que conteúdos virais podem alterar o humor de uma campanha, como o reels da candidata do PSOL, que repercutiu uma frase contundente, uma “lacrada” na expressão das redes, sobre o candidato Delegado Egídio, dizendo que ele é “pitbull para pobre, poodle para corrupção”. Esta postagem do dia 18 de setembro atingiu uma impressionante taxa de engajamento de 21,38%. Também chamaram a atenção a entregaram orgânica de duas postagens do candidato Odair Tramontin que, neste critério, estão na segunda e terceira posição, com 12,72% e 10,9% de engajamento cada. Uma falando do lançamento da candidatura e outra respondendo a candidata do PT.

Contudo, postagens de impacto momentâneo não garantem fidelidade a longo prazo, e os eleitores que se engajam virtualmente podem ser diferentes dos que comparecem às urnas no dia decisivo. Exemplo disso são os conteúdos que tiveram o pior desempenho no período analisado. Uma postagem da candidata Ana Paula, feita em 11 de agosto, registrou apenas 0,14% de engajamento, enquanto duas publicações do candidato Alba obtiveram números igualmente baixos, com 0,16% e 0,18% de interação, entre curtidas e comentários.

As pesquisas eleitorais, tradicionais termômetros da vontade popular, têm enfrentado dificuldades em captar o impacto das redes sociais na decisão do eleitorado. Por mais que dados sobre likes, comentários e compartilhamentos estejam disponíveis, eles não traduzem com exatidão as intenções de voto. Candidatos com forte presença nas redes podem ter um ótimo desempenho no mundo digital, mas as urnas podem revelar outra realidade.

No período pesquisado, por exemplo, Odair Tramontin foi o candidato que mais cresceu em busca e engajamento, atingindo 9,77% no ranking da plataforma Mlabs.

O Deputado Egídio ficou em segundo lugar, com 6,41%, e Ana Paula em terceiro, com 3,6%. Já os candidatos Alba e Rosane não apresentaram crescimento nesse período. Esses números mostram uma tendência, mas não garantem que o sucesso nas redes se refletirá nas urnas.

As eleições deste ano continuam a nos deixar uma dúvida: a política digital é, de fato, um reflexo da vida real? A quantidade de likes, por mais impressionante que seja, não substitui o voto. A presença online ajuda a criar uma imagem, constrói narrativas e engaja eleitores, mas converter toda essa interação em votos continua sendo um desafio para os estrategistas de campanha. Em última instância, só a abertura das urnas mostrará o verdadeiro impacto das redes sociais nas eleições.

Nessa nova forma de fazer política, o futuro ainda é incerto, mas uma coisa é certa: as redes sociais vieram para ficar, e saber utilizá-las pode ser a chave para conquistar o eleitor, ou, pelo menos, mantê-lo engajado até o dia da eleição. Se likes se transformarão em votos? Essa é a grande questão que descobriremos no dia 6 de outubro.

Tarciso Souza, jornalista e empresário

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