Opinião | Pastel, urna eletrônica e resistência

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Estamos na semana das eleições municipais de 2024. É aquele momento do ano em que o cheiro de pastel na esquina se mistura com promessas tão mirabolantes que a gente já sabe: vão evaporar antes mesmo da urna esfriar. E claro, o que não falta é candidato engomadinho comendo pastel e pão com bolinho, fingindo ser o “povão”. Não está no gibi.

No próximo domingo, milhões de brasileiros, exatamente 155.912.680 almas, vão marchar até as urnas eletrônicas para escolher o futuro das suas cidades. Ou, pelo menos, tentar. O número é bonito, um salto de 54% desde as últimas eleições, lá em 2020. Crescemos no eleitorado, assim como cresceu aquele cansaço que pesa nos ombros de quem já ouviu promessas demais e assistiu a muita contenda. Não suportamos mais briga por conta de política!

E olha só, somos uma das maiores democracias do mundo, sim senhor! Mesmo que a turma com síndrome de vira-lata teime em não reconhecer. Vamos votar de forma eletrônica, moderna, confiável. Aliás, engraçado: aqueles que, em 2022, questionavam as urnas eletrônicas agora estão de volta com o rabo entre as pernas. Nenhum desistiu de ser candidato este ano. O principal porta-voz dessa teoria, aliás, inclusive aqui na aldeia, está brigando voto a voto para convencer o eleitor a mais uma vez confiar, ir votar na bendita urna eletrônica.

E como se não bastasse, até o filho dele, o último da família que não era político, resolveu virar candidato. Coitado, herdeiro da fama, mas sem talento nem para falar em público. Dizem que o rapaz calado é um poeta, mas basta abrir a boca que cada palavra é um voto a menos.

No meio dessa tragicomédia, conforme os números do Tribunal Superior Eleitoral, a juventude que a gente achava perdida, a geração Nem-Nem, resolveu dar as caras. São 1.836.081 jovens de 16 e 17 anos com título na mão e um brilho nos olhos, ainda acreditando que o futuro é mais do que uma metáfora cansada. Um aumento de 78%! E não é que isso dá um certo alívio?

Do outro lado, a turma da resistência, os velhinhos, também não ficaram para trás. O eleitorado acima de 70 anos cresceu 12%. Agora são 15.208.667 pessoas nessa faixa etária. Gente que já votou com cédula de papel, enfrentou fila no sol, na chuva e que no próximo domingo vai estar lá de novo, firme e forte. Só os com mais de 79 anos já somam 4.826.663. Resistência é pouco pra descrever.

No país inteiro, 15.313 candidatos a prefeito estão na pista, disputando cada aperto de mão, cada sorrisinho de canto de boca. Para as câmaras municipais, são 423.908 nomes na corrida. Um mar de gente querendo a bênção do eleitor.

Aqui em Blumenau, cinco corajosos se arriscaram na disputa pela Prefeitura, uma queda brusca em comparação a 2020, quando 12 se jogaram na arena. Para o legislativo, a história não é muito diferente: 184 candidatos registrados, quase metade da última eleição que contou com 371. Um deles é um dos líderes da micareta que promoveram em frente ao quartel que, preso, é candidato a vereador pela urna eletrônica. Coerência mandou abraços! Fico me perguntando se ele agora sabe o código fonte.

Em meio a essa enxurrada de números, o mais importante é que essa será a primeira eleição depois do ataque à democracia que teve seu ápice no fatídico 8 de janeiro de 2023. Digo ápice porque a nossa democracia já vinha sendo espancada durante os quatro anos que o inelegível ficou no poder. Sobreviveu, mesmo maltrapilha. E quer saber? Que domingo seja uma festa! A vitória da festa da democracia contra a festa da Selma. A celebração do respeito, da diversidade e, sobretudo, da pacificação. Vida longa à democracia! Que ela resista, mesmo que seja de pastel na mão e voto eletrônico na outra.

Dr. Josué de Souza, professor e cientista social

1 Comentário

  1. Cabe ao eleitor separar o joio do trigo, nossos filhos pagarão o preço pela decisões do dia 06/10/2024. Eleitor não olhe apenas para o candidato mas em quem o segue, serão estas pessoas que estarão na prefeitura nos próximos 4 anos. Seriedade é a palavra e não aos candidatos que representam a continuidade da corrupção como temos visto na imprensa e
    não também aos mentirosos e enganadores de plantão.

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