Opinião | O crime organizado, ou: como realmente morrem as democracias

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Há 14 dias, o segundo artigo da série Ranking de Competitividade 2024 do Centro de Liderança Pública – CLP, informava que Santa Catarina é considerado o estado mais seguro do País. Desgraçadamente, porém, os ataques de facções do crime organizado, queimando carros e interrompendo vias na grande Florianópolis, incluindo a BR 101, mancham esse status quo. Sabe-se que a violência e o crime organizado têm origem social, já dizia Bezerra da Silva. A pergunta é: o que o cidadão honesto tem a ver com isso? 

As Polícias de Santa Catarina detiveram 18 envolvidos. Em entrevista concedida à Rádio CBN, o Diretor-Geral da Polícia Civil (PCSC), delegado Ulisses Gabriel, e o Coronel Alessandro José Machado, Subcomandante-Geral da PMSC, garantiram que o estado não vai “virar um Rio de Janeiro”. Um dos dois continua: “as pessoas me perguntam se Santa Catarina vai virar um Rio de Janeiro e a resposta é não. Aqui nós não temos milícia, não há omissão de combate e somos muito duros contra a criminalidade.

O estado do Rio de Janeiro, é bom lembrar, já tem mais de metade da sua economia controlada ou pelas milícias ou pelo crime organizado (bem no fim, a mesma coisa). A milícia, é bom lembrar, foi criada pra combater os criminosos, muita gente boa aplaudia, e olha no que deu: o Rio de Janeiro já era. Então, seria um alívio termos certeza de que milicianos cariocas não estejam infiltrados em Santa Catarina, nem estejam sonhando em se infiltrar na política e nos negócios, começando por Balneário Camboriú – sinais existem.  

Mas o crime organizado está aqui, insulta, debocha e humilha a Sociedade produtiva quando acontece o que aconteceu. Então, imediatamente nos vem perguntas didáticas do tipo: como deixamos o crime organizado chegar a esse ponto? E como evitar que se espalhe generalizadamente pelo Brasil e contamine o solo catarinense? Já está aqui e avança disseminando uma verdadeira cultura da impunidade e da crueldade.

Em Blumenau: um casal de idosos foi aterrorizado em sua própria casa, por três criminosos a procura de um cofre inexistente. Bateram, quebraram as costelas de um senhor septuagenário. Vinte dias depois, a Polícia capturou um deles e já identificou outro. Detalhe: os dois são integrantes do crime organizado. Em São José, uma mulher é vítima de um assalto, reage e é assassinada com tiro no rosto, na frente de casa. A suspeita é que os assaltantes sejam do crime organizado. 

Qual a origem de tanta crueldade? No começo de tudo, há um problema social, é verdade, e um sistema por trás. E se alguém quiser refletir seriamente sobre isso, pode começar revendo dois filmes brasileiros: Cidade de Deus e Tropa de Elite. Então, em nome dos direitos humanos e de uma concepção rousseauniana vulgar de que o criminoso seja a vítima, um enorme aparato jurídico é montado para garantir que marginais tenham seus direitos garantidos e se vinguem da Sociedade injusta. Noves fora, quem paga o pato é o cidadão honesto.  

Os direitos humanos, diga-se claramente, constituem um avanço civilizatório em relação às injustiças corriqueiras no passado. Acontece que, em nome desse nobre valor, ergue-se uma estrutura jurídica e burocrática gigante, cara, corporativista e patrimonialista, que afrouxa com o crime, gera a anomia social e desampara o trabalhador. Isso é sinal de falência institucional e arrebenta com a democracia que os patrimonialistas juram defender. Além disso, compromete a prosperidade que, como vimos em artigo anterior aqui mencionado, depende de segurança pública. 

As eleições gerais de 2026 esse tema estará na pauta. Respostas efetivas dependerão de futura inteligência parlamentar – algo em que o eleitor mediano não pensa na hora de eleger seu senador, deputado e governante. Idiotizado pelo sistema, incluindo os letrados, esse eleitor precisará ser convencido pelos próprios aspirantes aos cargos e, ainda assim, pode cair na lábia de demagogos rasos ou sofisticados. Mas a pergunta que todos terão de responder é: por que o cidadão honesto tem que pagar a conta dessa impunidade que ameaça o desenvolvimento e arrebenta com a democracia que juram defender?  

Walter Marcos Knaesel Birkner, Sociólogo, autor de Sociologia produtiva (Arqué, 2024) e do canal SC Think Tank no Youtube

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