Opinião | Entre Chopes e Torneiras Secas

Foto: reprodução

Estamos terminando a trigésima nona Oktoberfest de Blumenau, uma festa que é uma cópia da homônima de Munique, na Alemanha. A original foi criada em 1810 para celebrar o casamento do príncipe Ludwig da Baviera com a princesa Therese von Sachsen-Hildburghausen. Foi uma festa pública com banquetes, corridas de cavalos e muita cerveja.

Por aqui, a festa surgiu, segundo os entendidos, para superarmos os estragos causados pelas enchentes de 1984. A festa, que já estava sendo programada pela então administração municipal, aproveitou o noticiário nacional sobre as cheias do Rio Itajaí-Açu para lançar a maior festa da cerveja da América.

A cerveja, dizem, surgiu por volta do século VI, quando a água limpa era um luxo raro e a sede uma questão de sobrevivência. Foi então que os monges das abadias europeias descobriram a mágica de fermentar grãos. Assim, a cerveja, essa poção dourada, surgiu como guardiã das águas, cumprindo a missão de preservar o líquido precioso. No isolamento dos mosteiros medievais, longe do alvoroço dos feudos, os monges não apenas rezavam, mas também produziam cerveja, garantindo uma bebida segura em tempos em que beber água podia ser um risco fatal. Se Deus criou a água, os padres criaram a cerveja.

Depois de uma inundação de água suja e barrenta, o líquido precioso produzido pelos padres, desta vez, servia para alavancar a economia local e mostrar Blumenau para o Brasil e para o mundo.

Durante essas quatro décadas de festa, foram consumidos mais de dezessete milhões de litros de cerveja. Em 2022, a última edição em que foi computada a bebedeira, foram cerca de seiscentos e oitenta e três mil e trezentos litros. Os produtores de cerveja não são muito precisos, mas, pelo que andei especulando, para cada litro de chope ou cerveja produzido são necessários cerca de 4 a 20 litros de água. Uma água que não pode ser da mesma qualidade que a que o Serviço Municipal de Água e Esgoto (SAMAE) faz chegar às nossas casas. A água tem que ser pura, pois o Potencial Hidrogeniônico (pH), o grau de dureza e a alcalinidade podem interferir na cor, no sabor e no aroma da cerveja.

Aliás, a água na torneira dos blumenauenses poderia ser o tema da festa de 2024. Enquanto o prefeito, que é abstêmio, sangrava o barril de inauguração da festa, e os turistas e festeiros consumiam cerveja, nas casas dos blumenauenses o líquido criado por Deus era algo raro. Quando não raro, chegava sujo e com gosto de cloro. Fenômeno que faz com que a maioria de nós, além de pagar pela água municipal, tenhamos que comprar água mineral. Isso para beber, porque, limpar casa, lavar roupas e outras necessidades básicas virou luxo. 

A miséria da água não é novidade na cidade. A administração do SAMAE já foi objeto de uma CPI na Câmara de Vereadores. O resultado da comissão? Nem notícia tivemos. O tema foi longamente debatido durante a última campanha eleitoral. Depois de tanta falação, não resultou em nada, como o leitor já sabe o governo de plantão fez barba, cabelo e bigode na eleição, elegendo seu candidato no primeiro turno.

Esta semana, os nossos vereadores, na sua maioria também reeleitos, convocaram novamente o presidente do SAMAE para se explicar na câmara. Entre um gole e outro de água mineral e cafezinho vão questionar o atual presidente sobre suas ações. O atual presidente, aliás, é o quarto no governo Mário. O resultado da conversa também não importará muito, pois, na imprensa e nos bastidores, já se debate quem será o próximo ocupante do cargo. E dizem na política que, para quem está deixando o cargo, nem o cafezinho ou a água servem.

Se a Oktober está acabando, o verão nem chegou ainda. Pois, pelo andar da carruagem, não há santo ou divindade que dê jeito. Melhor estocar água… ou cerveja. Prost!

Dr. Josué de Souza, professor e cientista social

 

1 Comentário

  1. Nem começou o novo e antigo governo, já estão nadando na falta de agua…É, para servir e proteger….vendendo uma festa para ELITE, enquanto a população na falta de agua… Bem, mais da metade está satisfeita… Logo, chope e dança..

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