Opinião | Abstenções nas Eleições Municipais: um alerta para a Democracia

Foto: Agência RBS/Reprodução

As eleições municipais de 2024 trouxeram um dado preocupante: 27% dos eleitores brasileiros optaram por não comparecer às urnas, estabelecendo a segunda maior taxa de abstenção da história, ficando atrás apenas das eleições realizadas durante a pandemia de COVID-19 em 2020. Esse dado expressivo aponta para um afastamento progressivo da população em relação ao processo político, que já vinha sendo observado nas últimas eleições. Em 2016, por exemplo, as abstenções foram de 17,58% no primeiro turno e subiram para 21,55% no segundo, um índice já considerado alto à época.

Em capitais como São Paulo e Belo Horizonte, a situação é especialmente crítica, com índices de abstenção de 30% e 28%, respectivamente. Esses números demonstram uma continuidade da tendência que se intensificou em 2020, ano da pandemia, quando as taxas de abstenção nessas cidades foram ainda mais elevadas, registrando 30,81% em São Paulo e 32,84% em Belo Horizonte.

O aumento constante das abstenções reflete a desilusão e desconfiança da população com a política. A percepção de falta de representatividade e os frequentes escândalos de corrupção fazem com que muitos eleitores acreditem que seu voto pouco contribuirá para mudanças. Um dado interessante é que, em municípios onde a biometria foi implementada em 2016, a taxa de abstenção é significativamente menor (11,85%) em comparação aos locais sem essa tecnologia, onde chega a 19,18%. Esse fator sugere que a segurança e confiabilidade do processo eleitoral podem ser elementos que incentivam a participação.

A elevada taxa de abstenção representa um desafio sério para a democracia brasileira, pois, quando uma parcela grande da população deixa de votar, a legitimidade dos eleitos e a confiança nas instituições ficam em risco. Para enfrentar essa situação, o Brasil precisa investir em iniciativas que aproximem o eleitor do processo político, como maior transparência, prestação de contas e educação política. A democracia se fortalece apenas com a participação ativa e consciente dos cidadãos, e é essencial resgatar essa conexão para garantir a representatividade e o fortalecimento das instituições.

Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos

3 Comments

  1. 27% dos eleitores optaram por não comparecer às urnas. Menos pior porque essas pessoas já não dão a mínima de qualquer forma.

    Sim, tem uma parcela destes 27% que não sentiram confiança em quem votar e por isso não saíram de suas casas, mas, se fossem comprometidas, parariam para pensar e votar, no mínimo, no menos pior.

    Uma parte incalculável dos outros 73% que compareceram, assim o fizeram por mera obrigação.

    Este percentual misterioso que compareceu por obrigação corresponde ao público mais suscetível às campanhas de marketing, ao voto nos candidatos “que estão na frente das pesquisas”, às suas propostas imediatistas, quando não, às propostas que extrapolam as competências do referido candidato ou até ilegais.

    E assim, aqueles que reservam um mísero tempo da sua vida para escolher seu candidato, se tornam reféns das escolhas dessas pessoas.

    É preciso rever a questão da obrigatoriedade do voto de maneira urgente, enquanto isso não ocorre, os que não querem refletir nem um pouquinho sobre me quem votar, que fiquem em casa mesmo. Menos pior.

  2. A ideia do desinteresse, ou afastamento das pessoas da politica é algo surreal, simplesmente porque politica é conceitualmente a forma como nos relacionamos institucionalmente na pólis. E nós gostamos de viver na cidade. E até que as pessoas se mudem para ilhas desertas, cada uma na sua, continuaremos, gostando ou não, fazendo parte da política. Tratar o absenteísmo nas urnas como culpa dos políticos é ignorar que os meios de comunicação, a grande mídia, faz campanha aberta e diária contra a esquerda e apoia o fascismo sem nenhuma vergonha. Exemplo último foi ter servido de escada para a fakenews do governador de São Paulo contra o Boulos na manhã da eleição. As pessoas estão desiludidas, sim; mas não por culpa da política, mas dos jornalistas covardes ou vendidos que falsificam a realidade, a ponto de ter gente que acredita que não existe crise climática ou que sionistas são cristãos. Daí a votar em coach é um plimplim!

  3. Nos meus 77 anos ou fui proibida, ou fui obrigada a votar. Numa democracia plena o voto seria um direito.

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