Muito tem se falado sobre a polarização entre extrema-direita e extrema-esquerda no Brasil. Um discurso que acaba simplificando e distorcendo o que realmente está em jogo. A narrativa é conveniente para quem deseja vender a ideia de dois extremos igualmente perigosos, jogando todos num mesmo saco ideológico. Mas a realidade vai além disso.
Em janeiro de 2023, o Brasil foi palco de uma tentativa de golpe. Os atos de 8 de janeiro não foram meros protestos ou divergências políticas; foram um ataque frontal à democracia e à sua legitimidade. Se tivessem sido bem-sucedidos, estaríamos enfrentando um cenário de ruptura institucional, em que o respeito à vontade popular seria substituído pela imposição pela força.
Portanto, cabe a pergunta: se o golpe tivesse dado certo, de que lado você estaria? Essa é uma reflexão que não pode ser simplificada com o rótulo de “polarização”. Não é uma questão de direita ou esquerda, mas de estar ao lado das instituições, das leis e do compromisso com o regime democrático, ou ao lado daqueles que tentam subvertê-lo.
A reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos também suscita preocupação. A vitória de Trump pode dar munição para aqueles que usam a própria democracia para atacar quem não concorda com suas ideias, criando uma atmosfera de intolerância e opressão contra opositores. O reflexo dessa postura pode influenciar grupos que acreditam estar acima das instituições e que veem a força como solução para divergências políticas. Assim, a ameaça não é apenas local, mas global.
É aqui que entra a questão da coerência. Se a defesa da democracia é nosso princípio fundamental, a coerência não pode andar de mãos dadas com uma ideologia que prega ou tolera a violência contra as instituições. A lealdade cega a uma ideologia – seja ela qual for – não pode justificar o apoio a práticas antidemocráticas. Coerência significa defender a democracia, independente de quem esteja no poder ou de qual bandeira se esteja levantando.
Apontar para a suposta polarização entre extremos é uma maneira de desviar a atenção e diminuir a gravidade do que foi e do que ainda está em jogo. Não se trata de um embate ideológico meramente retórico, mas de um conflito entre o respeito ao processo democrático e a tentativa de impor uma agenda autoritária.
Afinal, de que lado você estaria?
Marco Antônio André, advogado e ativista de Direitos Humanos
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