Opinião | SC: taxa de desocupação de 2,8% expressa capital humano

Foto: reprodução

Santa Catarina alcançou a terceira melhor taxa de desocupação do Brasil em 2024, com apenas 2,8%, enquanto a taxa nacional é 6,4%.  Além disso, o estado registrou o segundo melhor desempenho na geração de empregos industriais, atrás de São Paulo. É, segundo o Instituto Nacional de Propriedade Industrial – INPI, o segundo estado mais inovador na indústria. É fruto do capital humano, proveniente do seu capital social, o que torna imprescindível a inserção do tema do desenvolvimento na agenda dos ensinos médio e superior.

Conforme o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados – CAGED, até outubro, SC gerou 46 mil novos empregos na indústria. Em termos absolutos, ficou atrás apenas de São Paulo, que gerou 133 mil no mesmo período. Considerando a regra de três, Santa Catarina é disparadamente o maior empregador industrial per capita do País. Se considerarmos que São Paulo possui 45 milhões de habitantes e Santa Catarina 7,7 milhões, a cada emprego gerado na indústria paulista, foram gerados dois na indústria catarinense. 

As cidades que mais empregaram na indústria são Joinville, Blumenau, Jaraguá do Sul, Brusque, Itajaí, Chapecó, Navegantes, São José e Araquari e Criciúma. 

Além disso, Santa Catarina foi reconhecida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) como o segundo estado mais inovador do Brasil na indústria, reafirmando sua vocação tecnológica e a criatividade empresarial. O Centro de Liderança Política – CLP já vem apontando isso nos seus últimos rankings anuais. Não obstante, o INPI é especificamente direcionado à indústria, e divulgou seu primeiro ranking em 2014, quando SC estava atrás de SP e RJ. Agora, em 2024, os primeiros são SP, SC, PR, RS, RJ, MG, DF, GO e ES.  

O que explica esse desempenho? Seguramente, vários fatores, mas analistas da produção econômica reconhecem que a causa radical está no capital humano de alta qualidade. Santa Catarina já é considerado o 4º polo tecnológico mais importante do País, atrás de SP, RJ e MG e à frente de PE, PR e RS. Não há como sê-lo sem alta concentração de capital humano e, no caso catarinense, não apenas a capital, mas cidades como Blumenau, Joinville, Criciúma, Chapecó e Concórdia contribuem para que o setor de TI gere 8% de todo o PIB estadual. 

Como já dissemos no artigo anterior desta Coluna, este fator, cuja revelação deu a Gerry Becker (1951-2019) o prêmio Nobel de economia, resulta parcialmente do capital social. No caso de Santa Catarina, é sua fonte principal, residindo nas profundezas da sua história. Na perspectiva da ciência, não há como entender a prosperidade do estado sem recorrer à sua constituição antropológica, fator anterior a transcendente a qualquer outro. Nosso desenvolvimento não foi implantado, ao contrário, emergiu endogenamente. 

Entretanto, esta interpretação antropológica da economia catarinense não aparece nos currículos escolares e universitários. E aí temos um problema, porque a devida consciência histórica é a bússola do desenvolvimento, antes mesmo de qualquer planejamento estratégico – dentro do qual essa consciência precisa estar considerada. A fim de que a prosperidade siga seu curso, não só os investimentos infraestruturais são imprescindíveis, mas uma Educação estratégica. 

Salvo que se desconsidere a Educação – e seus conteúdos conceituais – o fator estratégico do desenvolvimento, é necessário incorporar o tema do desenvolvimento na agenda educacional dos ensinos médio e superior, entre tudo, na dimensão local-regional. Ao conscientizar as próximas gerações das causas originais do empreendedorismo e da inovação, Santa Catarina garantirá, assim, a sua trajetória de liderança no cenário nacional. É óbvio que com infraestrutura, mas, jamais sem o capital humano. 

E, compreendido como produto do capital humano e social, a imersão estratégica no tema do desenvolvimento conscientizará jovens de que a verdadeira fonte da prosperidade é intrinsicamente humana e coletiva. Ela não tem origem nos artifícios governamentais, embora haja bons governos. Menos ainda na natureza e muito menos na sorte. Está na diligência humana proveniente da consciência coletiva.

Walter Marcos Knaesel Birkner é professor aa Uniasselvi, autor de Sociologia Produtiva (Arqué, 2024) e Capital social em Santa Catarina (Furb, 2006)  

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