Bolsonaro em Blumenau. É o que queremos para o Brasil?

Sei que vou me incomodar, mas também não estou aqui para fazer média.

É triste ver que o que deveria ser requisito para qualquer político virou predicado. Não ser “corrupto” virou sinônimo de bom político.

Errado, mas compreensível, em meio a tanto lamaçal provocado pelos maus políticos e pelo sistema.

Faço esta introdução para falar da presença do deputado federal Jair Bolsonaro (PSC) em Blumenau, na última sexta-feira. Foi no Eisenbahn Biergarten, no Parque Vila Germânica.

Nem a sexta-feira de trabalho impediu um grande público, com muitos jovens. Estima-se que três mil pessoas estiveram lá.

Bolsonaro foi recebido ao coro de “mito, mito” e recebeu até uma faixa presidencial. O mestre de cerimônia o chamou de “próximo presidente do Brasil”.

Mas ele começou sua fala “alertando a Justiça Eleitoral que não está pedindo votos”. Se sua presença aqui não é campanha eleitoral antecipada, não sei o que seria, mas para seus seguidores isso não é muito importante.

Criticou as reportagens recentes da Folha contra ele, chamando o jornal paulista de “comunista”. Abordou os últimos escândalos nacionais.

Perguntou se o Brasil tem jeito.  “Com todo respeito ao coronel ou ao sargento, o país precisa de um capitão”, ele mesmo respondeu, ele que é capitão do exército. Ainda bem que não é campanha eleitoral…

Fez o discurso que muitos querem ouvir, em especial no que diz respeito a segurança pública, nestes tempos de “insegurança” coletiva. Mas não deixa claro qual sua proposta.

Suas falas são retrógradas, excludentes, limitadas.

A grande ação prometida para mulheres é “ter uma arma em casa”. Sim, ele falou isso  em Blumenau, para desancar a deputada Maria do Rosário (PT) e o debate sobre o estupro. Ou seja, ele diz que uma arma resolve esta questão cultural milenar.

Falou do politicamente correto que permeia a sociedade contemporânea. “Querem tirar nossa alegria de viver, de contar piadas”, afirmou sobre piadas envolvendo  moradores de alguns estados e mulheres, para a plateia  que respondeu com aplausos e gritos.

Trouxe questões para o produtor rural, falou do banco do Nordeste e do Amazonas, de forma bastante superficial e sem muita conexão.

Sobre política internacional, suas propostas o aproximam de Donald Trump. Claro, mais da metade do tempo critica o PT de Lula e Dilma.

Confira boa parte do discurso, no Facebook do deputado Rogério Mendonça Peninha (PMDB). Tem uns 18 minutos do “Bolsomito”, como é chamado por muitos em Blumenau e pelo país.

Confesso que fico preocupado. O Brasil tem errado muito e não é possível que não aprendamos.

Qual a proposta do presidenciável Jair Bolsonaro? O que ele fez como deputado? Quais projetos apresentou, qual sua posição sobre temas importantes da sociedade? Você sabe?

A responsabilidade é nossa e não podemos nos atrair por discursos moralistas e superficiais.

Tinha muita gente na “palestra” de Jair Bolsonaro em Blumenau e houve muita repercussão nas redes sociais, que mostra a importância do fenômeno. Ele fala o que um segmento da sociedade quer ouvir e ganha cada vez mais adeptos, principalmente nesta falência ética da política que vivemos.

Mas precisamos ir além. Já tivemos o caçador de marajás Fernando Collor e mais recentemente Aécio Neves. A solução para o país não é fácil e não podemos cair em qualquer discurso. Chega de extremismo.

Se quiser ouvir boa parte do discurso de Bolsonaro em Blumenau, confira aqui, no Facebook do deputado Rogério Mendonça, o Peninha, que trouxe o colega do deputado federal para Santa Catarina.

Até gostaria que quem defende Bolsonaro em Blumenau revisse a fala dele na Vila Germânica. Gostaria de saber a opinião, longe do calor do evento. É isso que se quer para presidir o Brasil?