Lições para a história? Quem as aprende?

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clovis lindner

 

Clóvis Lindner

Pastor Luterano (IECLB)

Datas de tragédias sempre evocam a necessidade de “não esquecer”. A lembrança de genocídios têm a pretensão de repassar uma lição: “para que jamais se repitam”. A dramática pergunta que fica é o da efetividade dessas lições.

Aprendemos realmente com a história? Recordar ensina? Eu fico em dúvida.

post clovisFaz 70 anos, por exemplo, que somos insistentemente relembrados das barbaridades do holocausto protagonizado pelos nazistas. Apesar disso, ele já se repetiu incontáveis vezes nessas poucas décadas do pós-guerra. Alguns poucos eventos para refrescar a nossa memória.

O genocídio cambojano levado a cabo por Pol Pot e seu regime do khmer vermelho (1975/79) executou 2 milhões de pessoas.

O apartheid na África do Sul (1948/94), regime racista da minoria branca contra a maioria negra, que nos legou a impressionante lição de Nelson Mandela sobre igualdade racial e prática do perdão, mas que não aprendemos, nem lá, nem aqui.

O genocídio de Ruanda (1994), no qual extremistas hutus exterminaram os tutsis com machados e facões. Entre 7 de abril e 15 de julho de 1994 quase um milhão de tutsis foram assassinados dessa maneira e quase todas as mulheres foram estupradas no país.

Para que ninguém diga que há bons e maus nessa história (onde quase sempre os EUA são contados entre os “bons”), durante a guerra do Vietnã, para encontrar os bravos combatentes vietnamitas que se esgueiravam entre as florestas tropicais do país, os americanos lançaram sobre as florestas o agente laranja, uma mistura de dois herbicidas (2,4-D e 2,4,5-T), cujo uso deixou sequelas terríveis na população daquele país e nos próprios soldados norte-americanos, com proporções não plenamente calculadas até hoje. As aplicações aconteceram incontáveis vezes entre 1961 e 1971, como programa militar planejado em estratégias de guerra. Um total de 80 milhões de litros foram aplicados, que destruíram o habitat natural, deixaram 4,8 milhões de pessoas expostas ao agente laranja e provocaram enfermidades irreversíveis, sobretudo malformações congênitas, câncer e síndromes neurológicas em crianças, mulheres e homens do país, com sequelas até os nossos dias.

Por fim, acontecendo neste momento, todas as barbaridades promovidas pelo Estado Islâmico repetem as más lições da história com requintes de crueldade…

Ainda mais, para que não digam que somos uma ilha no meio de tudo isso, durante 21 anos o Regime Militar matou milhares de brasileiros e brasileiras nos porões da tortura, só porque pensavam diferente e sonhavam com um outro país.

As lições da “Escola das Américas”, que treinaram muitos dos protagonistas dos regimes militares por toda a América Latina, fez largo uso dos métodos de tortura e extermínio usados pelos nazistas no holocausto. Essas, infelizmente, foram as lições de história mais bem aprendidas daquele tempo nefasto.

Eu não queria dar este desfecho ao meu texto, mas não há como contornar um poste plantado bem no meio do nosso presente e que pode amarrar o nosso futuro próximo. A sociedade brasileira anda inquieta, cheia de ódio, moldado em bancos de igreja inclusive, e que a torna sedenta de vingança, pronta para um novo tombo no buraco da barbárie. Com temor e tremor por nossa democracia, eu pergunto: Lições da história? Aprendemos alguma?

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