Alexandre Gonçalves
Jornalista
Assusta perceber onde chegamos com a matança de inocentes na França. E quando escrevo chegamos, falo de sociedade, civilização, eu e você, nós.
Entre tantas coisas, e são tantas mesmo, o pior de tudo é ver a falta de humanidade do ser humano e como a intolerância prevalece, além da falta de perspectivas promissoras. Alguns até buscam justificativas na política internacional, na religião, no mercado das armas, na produção de petróleo e outras.
Não há justificativa. Ela está condicionada a nossa tentação pela barbárie. Hoje e sempre, é só olhar para trás.
De quando em quando, ficamos reféns de barbáries como essa, que demonstram nossa vulnerabilidade enquanto sociedade organizada. Foi na França, como já aconteceu recentemente na Espanha, na Argentina e nos EUA. Diariamente acontece em muitos lugares, com múltiplas facetas. Nem maiores, nem menores. Facetas.
As vítimas de Paris juntam-se as centenas de milhares de pessoas que buscam refúgio na Europa. Fogem da guerra civil na Síria, da miséria e violação dos direitos humanos em outras quatro regiões da Ásia e África. Muitos ficaram pelo caminho, na aventura desesperada de tentar cruzar o oceano. Os que prosseguem, mais de meio milhão de pessoas, sobrevivem em um mar de indefinições, onde a solidariedade e o preconceito misturam-se.
Estas pessoas estão no epicentro de um dos principais dramas humanitários dos nossos tempos e situação vai piorar depois dos atentados de Paris. Assim como as vítimas desta sexta-feira, 13, esses milhares de homens, mulheres, crianças, seres humanos, também são vítimas da barbárie humana.
A barbárie da humanidade se revela também na tragédia de Mariana, em Minas Gerais. Mortes, perdas, destruição. Fim. Um mar de lama tóxico que deixará consequências para sempre. Negligência, irresponsabilidade, descaso. Do ser humano com o ser humano.
São três dramas recentes, de tantos da história da humanidade.
O que estamos fazendo conosco ? Ou somos assim?
Existe jeito?
Por fim, alguém acredita que vamos mudar?
PS: Quando escrevo vamos, penso em sociedade, sistema, no caso, eu e você e todos nós.
Eu não. Ou seja, entendo que vamos continuar assistindo estes dramas.
Triste.
No Brasil, só em 2014 foram 57 mil assassinatos, vítimas da bandidagem. Não vejo comoção alguma da população nem dessas nossas medíocres “autoridades”. Cada país que cuide de seus mortos.
Claro que a ação dos jihadistas foi covarde e desproporcional e deve-se respeitar as vítimas, mas infelizmente, Alexandre, não há inocentes nessa história.
EUA, China, Rússia e a França são os maiores fabricantes e exportadores de armas no mundo e as bombas fabricadas por estas nações tem que ser jogadas em algum lugar, geralmente em países de terceiro mundo e assim, como qualquer produto manufaturado, o estoque tem que ser reposto. Hoje os alvos principais são Síria e Iraque.
Um exemplo são as minas terrestres. A maior indústria de minas antipessoais do mundo encontra-se nos Estados Unidos, a Claymore Inc. Esses dementes fabricam um tipo de mina cuja função é destruir e cauterizar logo após a explosão, os membros inferiores dos elementos atingidos, mutilando sem matar. Este artifício é feito de forma que o alvo não venha a morrer por hemorragias, e sim permanecer vivo, acordado, sentindo dores e gritando pela maior quantidade de tempo possível, de forma a quebrar o moral da tropa em seu avanço. Além disso, serão precisos dois homens para carregar o ferido, diminuindo o número de soldados para combate.
Uma estratégia de terror, não é?
Depois que do fim dos conflitos, estima-se que a cada ano elas matem ou mutilem de quinze a vinte mil pessoas em cerca de 70 países. “No Norte da África, minas da Segunda Guerra Mundial aterrorizam as populações rurais até hoje”, afirma um especialista em remoção de minas da Halo Trust, organização humanitária dos EUA que atua em nove países. Cerca de 110 milhões delas continuam enterradas, esperando novas vítimas, geralmente crianças, populações locais e animais. Os países mais afetados são Afeganistão, Angola e Camboja. Na América, o maior perigo está na Nicarágua, em Honduras, Costa Rica e Guatemala.
Sejamos justos, o que os países dominantes querem é apenas petróleo.