Pai de ex-alunos da FURB critica posição da Universidade no caso Elza Pacheco

Repercute as notas enviadas por alguns departamentos da FURB, em protesto contra moção de repúdio da Câmara de Vereadores pelo projeto pedagógico desenvolvido na Escola Elza Pacheco.
O pai de dois ex-alunos da Universidade regional mandou uma carta ao reitor e também ao Informe Blumenau, a qual publico na íntegra. Ele apresenta-se como Bartolomeu Silva.
Exmo. Reitor.
Meus 2 filhos estudaram na FURB e a terceira está se formando em 2019, e parte do patrimônio dessa Universidade ajudei a contribuir, como outros pais de trabalhadores da nossa região.
Estou indignado quando vejo nas redes sociais, documento oficial com o timbre da FURB apoiando esse ou aquele movimento social, seja de apoio ou não a diversidade sexual.
Segue anexado, documento assinado por uma professora (Profa. Rita Buzzi, Diretora do CCEAL) apoiando evento na Escola Elza Pacheco.
Quero resposta quanto: A FURB é pública? Se sim, quem autorizou a Universidade a se manifestar sobre este evento do Elza Pacheco? Me sinto ofendido porque eu financio essa Universidade com o pagamento das mensalidades dos meus filhos e se for colocar na ponta do lápis, passa bem longe dos 100 mil. Se foi ato isolado, a pessoa deve ser punida.
Os alunos da FURB foram consultados sobre essa moção de apoio? Quem decidiu essa nota?
Exijo retratação pública porque a FURB deve se preocupar com o ensino e não meter o bedelho onde não deve. 
atenciosamente”

6 Comentário

  1. A FURB, como Universidade, presta os serviços públicos de ensino, pesquisa e extensão. Como relatado pelo pai dos alunos, ele pagou pelo serviço e recebeu o serviço, visto que seus dois filhos se graduaram na Universidade e o terceiro está se graduando. A FURB prestou e presta o serviço a que se destina. A FURB é uma universidade pública, o que significa que ela é de todos, e não de uma determinada pessoa ou determinado grupo, daí a impossibilidade de imposição de quem quer que seja sobre o que pode ou não ser dito ou escrito.

  2. A Universidade, como o próprio nome sugere, é um universo de pessoas e por consequência de diferentes ideias. Quanto ao tema, certamente dentre os professores, alunos, servidores, e até na própria administração superior, tanto esta quanto outras questões podem e até devem ser controvertidas, razão pela qual dentro da própria Universidade existem diversos órgãos colegiados,estimulando o debate de ideias acerca dos mais diversos temas para construir a melhor solução para cada situação posta, é o que chamamos de princípio da colegialidade. A Universidade é, afinal, um lugar para a construção do conhecimento, o que se faz através da troca de experiências. Daí porque não deve haver qualquer tipo de censura, desde que o que se esteja dizendo ou escrevendo seja lícito e legítimo.

  3. Assim como determinados grupos dentro da Universidade se manifestaram em um sentido, nada impede que outros se manifestem de forma diversa, assim como a Câmara de Vereadores se manifestou e tantos outros. O que deve prevalecer é a liberdade de cada um para se expressar e o respeito àquele que pensa diferente.

  4. Em tempos difíceis, as palavras duras prosperam aquilo que pretendem eliminar. Por isso as palavras de esclarecimento talvez sejam mais resolutivas.

    Sou uma professora desta Universidade que, mesmo não tendo assento no Conselho Universitário (CONSUNI), entendo que todos os colegas que o constituem desempenham ação criteriosa quanto ao processo de gestão, poder e autoridade de nossa Instituição, de tal modo que a FURB desfruta de incontestável prestigio acadêmico-científico em Santa Catarina, no Brasil e em diversos outros países. Por isso é importante compreender que exigir do reitor da FURB uma “retratação” constitui algo completamente improcedente. É bom que se conheça a instituição universitária naquilo que é o seu fundamento.

    De aí que pode ser útil esclarecer que o CONSUNI é a máxima instância de decisão sobre o que acontece em nossa Universidade. Dentre as responsabilidades remetidas a este Conselho está a de produzir todas as garantias previstas no texto constitucional de 1988, no tocante a um dos pilares da vida universitária que é a autonomia universitária. De modo inconteste, é o estatuto da autonomia universitária aquele que mais atentamente deve ser guardado em atenção e cuidado por este Conselho.

    Penso que é oportuno relembrar que sob a égide desta condição – a da autonomia universitária -, fundamental à existência de qualquer instituição universitária no Brasil, estão as garantias relacionadas à autonomia didática e científica consolidadas em atividades de entre ensino, pesquisa e extensão. De maneira conjunta a estes, e de modo específico ao descrito no Artigo 206 de nossa Carta Magna, as universidades devem garantir a expressão plural de ideias e de concepções pedagógicas e produzir processos de gestão democrática do ensino.

    Estou convicta que os colegas que manifestaram posição sobre fatos que tem gerado tanta tensão em nossa cidade, o fizeram resguardados por princípios incontestavelmente legais e inegavelmente éticos. Creio ser impossível retratação daquilo que estando dentro da lei e ocupando de modo honesto as consciências manifesta-se como ato ético-político e estético.
    Como professora tenho compreendido que para uns o diálogo é o ideal de vida enquanto, para outros, o diálogo parecer ser desnecessário e, por tanto, deve ser afastado da vida do dia-a-dia.
    Ao invés de exigir “retratação” – como se houvesse em questão um crime de grave ofensa à dignidade ou às leis vigentes no País – o mais plausível e construtivo seria o que se realiza pelo diálogo. Quando pudermos, todos, conversar, de maneira em que a verdade de cada um possa ser manifestada sem ódios, agressões ou violências uma perspectiva digna sobre as relações entre as pessoas poderá se tornar realidade. Sem conversa e sem respeito às diferenças, em tempos que o ódio importa mais do que a dor que ele produz, estaremos fadados à tragédia do despedaçamento de nossa existência como seres humanos.
    Catarina Gewehr
    Profa. do Departamento de Psicologia
    Mestre em Psicologia Social e da Personalidade (PUCRS)
    Doutora em Psicologia Social (PUCSP)

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