Artigo: Indignação Seletiva

Suzana Sedrez

Psicóloga, Dra. em Educação, Mestre em Ciências Sociais

Dois pesos e duas medidas regem as ações e opiniões de algumas instituições brasileiras. Do STF ao Congresso, passando pelo PIG (e suas sete famílias empresárias da comunicação), cujas decisões partidarizadas reverberam nos intestinos lamacentos do Brasil.

Há um foco para a indignação seletiva. Induzida, porque silenciada, no seu contexto. “Não passarão”, diz o STF, mas quanta corrupção comprovada está prescrevendo e justamente a da oposição? “Não vem ao caso” quanto das investigações passam ao largo do principal partido de demolição em relação ao que foi construído, historicamente, na longa luta pela democratização do País.

O jogo de interesses das bancadas no Congresso para manter o atual ícone da corrupção do Legislativo é de puro cinismo para com o povo, inocente e útil, que os colocou lá, alienado pelo discurso da moralização fácil. Palavras ao vento, descoladas de significado ético, nas eleições financiadas pelo poder do farto dinheiro privado oriundo do Estado.

Genocídios dos negros por racismo. Genocídio dos indígenas para liberação de terras expropriadas. Escolas ocupadas contra a reorganização e possível privatização do ensino. Leis de redução da maioridade penal visando privatização do sistema carcerário. Exploração escancarada da fé, fascismo sendo estimulado pelos formadores de opinião e elites como jogo de cena para escamotear a luta de classes.

As informações da mídia realçando e amplificando o que lhes interessa e escondendo certos fatos, num padrão de dominação, interferindo na compreensão e na subjetividade do brasileiro.

Vivemos a ditadura da mídia e também a do Judiciário. Com seus representantes, verdadeiros gangsters, disputando territórios, consciências e fatias de mercado. Sua arma cínica e desonesta intelectualmente apontada para manipulação da informação e polarização da crise ética, política e econômica. Crise de modelo de conduta e dos negócios denunciada na trincheira da internet que expõe o limite da encenação entreguista. A cada jogada, o campo de lutas está mais claro: ou se está ao lado dos golpistas ou na luta pelo aperfeiçoamento da democracia.

Há muitos interesses em jogo e, atualmente, o maior deles é o de enfraquecer a democracia, o Estado e as conquistas sociais. Hoje, mais do que nunca, estar ao lado da esquerda significa ajudar a preservar e fortalecer as instituições democráticas. É isso o que importa até para que as discussões se atualizem e adquiram caraterísticas de conscientização sustentável numa perspectiva horizontalizada integrada e coletiva visando à vida e o bem comum.  Na contramão das políticas autoritárias, sob o aparato militar, que caracterizam ditaduras reeditadas pelo golpe oportunista (também financista), via impeachment, sobre um governo com preocupações e políticas para a população marginalizada historicamente.

As mudanças não dependem das nossas vontades individuais. Elas resultam de ações concretas, vontade política, participação dos movimentos sociais e reformas significativas na estrutura do Estado. Quem fortaleceu e aparelhou inclusive a própria direita, pulverizada nas instancias burocráticas do País, para o combate à corrupção foi o governo do PT. Cortar na própria carne é parte contraditória dessa limpeza ética. Agora, quanto à lama seletiva da oposição, as urnas em 2016 e 2018 podem apontar para algo novo: uma depuração sobre quem de fato está comprometido com a população e o desenvolvimento sustentável do seu País.

Assim, com indignação juvenil, sangue e lama vamos passando o País a limpo, entre alguns recessos e festejos, em que muitos ainda recalcam culpas, omissões e alienações. No entanto, temos ainda um longo caminho de lutas pela frente, sobretudo para manter o que já foi duramente conquistado.