Depois do triste incêndio no Museu Nacional do Rio de Janeiro, a professora Marta Brod, da disciplina de Webjornalismo do curso na Unisociesc, provocou seus alunos a conhecerem os museus de Blumenau e fazerem reportagens sobre os mesmos.
E o Informe Blumenau abre espaço para o trabalho deles. Ao longo da semana, postaremos três reportagens. A de hoje foi escrita pelos acadêmicos Eduarda Loregian, Eduarda Prawucki e Olga Helena de Paula Rangel.
Confira:
Viagem do Tempo no Museu de Hábitos e Costumes
Por: Eduarda Loregian, Eduarda Prawucki e Olga Helena de Paula Rangel
Redação da Unisociesc
Visitar o Museu de Hábitos e Costumes é algo semelhante a uma viagem no tempo.
O Museu é repleto de história e um lugar onde encontramos uma facilidade sem igual para a imaginação.
Muita coisa mudou em Blumenau, e o museu retrata essas mudança e o tempo de maneira louvável.
Ao passar pela porta além da recepção, o visitante adentra em um mundo antigo, porém, completamente novo.
Mesmo sem as roupas da época nos sentimos transportados, em um túnel do tempo, diretamente para o século XIX.
Aberto em 2010, o Museu é Dividido por disposições que mostram o lazer, a higiene, o modo de dormir, a história da moda, da beleza e da costura, brinquedos e a cozinha da época.
Com disposições fixas e duas áreas para exposições temporárias, que trocam conforme os meses, o museu apresenta ao todo mais de 5 mil artefatos expostos.
A visita inicia com o deslocamento pelo museu até o sótão.
O deslocamento é rápido mas já nos impacta e enche os olhos para aquilo que temos a desvendar.
Chegando no sótão o seguinte resumo chega aos nossos ouvidos:
- Em 1920 o Museu era uma casa de comércio de importação e exportação do cônsul alemão Gustav Salinger, neste mesmo ano o proprietário faleceu, sua esposa e seu sócio não tiveram interesse em prosseguir com a gerência do local e ele foi fechado.
- Após 10 anos, a casa foi comprada pelo Banco Nacional de Comércio que fez a instalação do cofre localizado no térreo do Museu.
- Após ser um banco, em 1945 a casa do Museu foi uma Distribuidora de Tecidos, denominada Dicateza.
- De 1997 até 2003 a casa abrigou o Casarão dos Cristais, último comércio no local, que ficou um período desativado.
- O imóvel tornou-se patrimônio do município pois, o último proprietário tinha dívidas com a Prefeitura.
- Os objetos expostos no local são do cotidianos dos Blumenauenses de classe média alta desde o período colonial até a atualidade.
- O Museu teve um total de 9.584 visitas no ano de 2017 e até setembro de 2018 6.674 pessoas já visitaram o museu.
- O museu e sua disposição foi idealizado por Ellen Jone Weege Vollmer, 80% do acervo do foi doados por ela.
Ellen Jone Weege Vollme
“Conhecer um pouco da vida de Ellen Jone Weege Vollme, através de suas memórias e de seu grandioso acervo histórico, é reafirmar o importante papel da educação e do respeito ao homem perante a vida e sua própria história”
“Ellen, assim como tantos outros guardiões da história, não perde de vista suas raízes, auxilia na construção de um presente e deixa como herança valores, que se perpetuam para as gerações futuras, como hábitos e costumes na vida de cada um de nós”.
A Blumenauense faleceu no dia 30/06/2017 e o município declarou luto oficial na data.
Ellen colecionava as peças do museu desde os 13 anos de idade dentro de 78 malas e baús para garantir a durabilidade.
Ela deu continuidade a coleção até 2017, com 89 anos.
Trineta de imigrantes pomeranos, vindos ao Brasil em 1868, viveu seus primeiros anos com a avó paterna em pomerode, após o falecimento de sua mãe.
Veio para Blumenau estudar na escola alemã, e foi adotada pela irmã de seu pai biológico, Cecília Weege Lieschke.
Estudou em São Paulo na Deutsche Shule, onde é hoje o colégio Visconde de Porto Seguro.
Trabalhou como secretária bilíngue, na fábrica alimentícia Dr. Oetcker.
E retornando a Blumenau, onde trabalhou na fabrica de sua família, a “Chapéus Nelsa”. Casou se com Harald Vollmer, em 1951.
Tiveram dois filhos: Gunnar e Iná Vollmer.
E Rosima, uma menina que veio morar com a família aos 9 anos de idade.
Em 1950, Ellen abriu uma fábrica de confecção de roupas íntimas a “Maju Ltda”.
Em 2006 Ellen deu um depoimento onde declarou:
“Fui juntando as coisas, então me deu uma ideia de juntar mais coisas antigas, de todas essas pessoas que deixavam as casas e iam morar em apartamentos ou para ancionatos”.
Casarão ameaça estrutura do Museu
Nesta semana a Prefeitura de Blumenau divulgou que um casarão antigo, tombado pelo Governo do Estado, está colocando a estrutura de um dos principais museus da cidade, O Museu de Hábitos e Costumes, em risco.
O Prefeito Mário Hildebrandt se reuniu com representantes e solicitou uma vistoria e um laudo sobre os prejuízos causados pela má conservação do casarão.
De acordo com a Prefeitura, desde 2006 a Fundação Cultural vem solicitando a reforma, mas até então nada foi feito.
Durante a reunião o prefeito destacou:
“O Casarão Azul, como é conhecido, é de propriedade privada e divide parede com a Câmara de Vereadores e o Museu de Hábitos e Costumes. A orientação agora é que seja feito um laudo da situação. Essa é uma preocupação antiga, mas por ser de propriedade privada não está ao nosso alcance de resolver. O laudo servirá como documento oficial, para que possamos seguir com os trâmites legais e buscar a solução do problema”.
Exposições provisórias:
Exposição “Noivas”
No dia 31 de julho de 2018 foi aberta oficialmente para o público, a exposição “Noivas”.
A mostra apresenta a evolução dos vestidos através do tempo.
A coleção é composta por peças do acervo do museu e também por peças particulares.
Entre as peças está uma réplica do vestido de Bertha Blumenau, esposa de Hermann Bruno Otto Blumenau, fundador da cidade.
Hermann e Bertha se casaram em Hamburgo, na Alemanha, em 21 de março de 1867.
O casal teve quatro filhos, Pedro, nascido ainda na Alemanha, Christiana, Gertrudes e Otto nascidos no Brasil.
Exposição “Colecionismo de Moedas”
Outra exposição temporária é a de moedas antigas.
Ele reúne um acervo com moedas e notas de diferentes períodos históricos.
Na época, em 1930, o imóvel abrigou o Banco Nacional do Comércio, onde foi instalado um cofre revestido de chapas de aço, que ainda permanece no local para visitação.
E é dentro desse cofre que a exposição está instalada, permanecendo até dia 04 de novembro de 2018.
Artigos inusitados
Eram outros tempos, nós sabemos, mas estamos no século XXI e muitas coisas nos parecem estranhas agora.
“Cachos de Artista de Cinema”
Como é o caso de um aparato para fazer cachos.
Cheio de fios, que prendiam-se aos cabelos e deixavam as mulheres presas durante horas, até conseguirem o resultado esperado:
“Batendo no tapete”
Outro utensílio um tanto estranho é um batedor de vime, para tirar poeira do estrado da cama, colchão e tapete.
Hoje utilizamos para esse fim, o aspirador de pó.
“Banho aos Sábados”
“Cada sábado o tacho era recheado com água para ser aquecido.
A banheira era de zinco e as crianças eram as primeiras a tomar banho.
As mais sujas ficavam por último.
No fim, as cabeças eram lavadas e ao enxugá-las dava-se um gole de vinagre sobre o cabelo, pois os piolhos não eram raros.
Agora era a vez do avô, e com grandes panos a cozinha era repartida.
A avó vinha esfregar as costas do avô.
Buscava-se uma ceroula limpa no armário que deveria durar uma semana.
Se a usada estivesse muito suja o sol ia coarar.
Agora era a vez da avó, a trança ficou de lado e uma camisola limpa já tinha providenciado. E por último era a vez da mãe e do pai.
Se sobrasse água ela era usada para lavar a calçada”.
“Brincando no tempo”
Um quarto com vários brinquedos da época ganha espaço no primeiro andar do museu.
Os brinquedos recontam as histórias e gostos das crianças através dos anos.
A madeira, como matéria prima principal, também era importante na idealização dos brinquedos: Carrinhos, berços e casinhas de bonecas.
“Contando histórias em braille”
Outro diferencial do Museu de Hábitos e Costumes, é o livro em braille disponibilizado logo na entrada do Casarão.
O livro é cheio de texturas e conta de uma forma criativa a história de tudo o que há no museu.
Esta é a perspectiva que permite aos museus atuar verdadeiramente como espaços de fronteira, pontes entre culturas, como espelho multifacetado da experiência humana, onde todos podem reconhecer-se, compreender-se e aprender a respeitar o diferente, através de si mesmos – percebendo a história não como retorno, mas como fluxo, onde cada indivíduo, cada sociedade tem seu significado e seu lugar”. SCHEINER, Tereza Cirstina Molleta.
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