Por Felipe Schultze – bacharel em direito
Parece-me que o ser humano não se adapta com a liberdade. A ideia de sermos conduzidos para um precipício por alguém de voz forte e energética é sedutora aos brasileiros. Sempre que a liberdade é concedida, nos sentimos perdidos pelo amplo poder de escolha.
É certo que o Brasil nunca teve simpatia pelas liberdades individuais. Recordo-me de uma história envolvendo Getúlio Vargas. Getúlio, após uma longa noite de resistência contra a tentativa de golpe dos camisas verdes, viu, pela janela do palácio, uma grande manifestação de artistas pronunciando apoio irrestrito. Dentre os artistas, estava o célebre Procópio Ferreira. Pense, qual governante não desejaria ter uma manifestação orgânica de artistas ao seu favor? Mas a primeira reação de Getúlio foi resmungar para seu assessor: “como vamos tirar essa gente daí?”. Ou seja, houve tempos no país em que não era permitido ser a favor de um governo ditatorial.
O vazio que trás a liberdade não é regra exclusiva do Brasil. Leandro Karnal lembra que na França, o autoritário Rei Luis XVI, o mesmo que chegou a proclamar a frase “O Estado sou eu” (hoje usado de forma demasiada por políticos), foi derrubado e seu sucessor foi o controlador Napoleão. Na Rússia, depois de uma vida em desgraça com Czares, a solução encontrada foi o sangrento Stálin.
Tenho a impressão que as pessoas não sabem usar sua liberdade. As escolhas repetem-se e líderes autoritários aparecem na história como os ambulantes aparecem em rodoviárias.
Quando escrevo sobre liberdade lembro-me da palestra que presenciei do professor Canotilho em Curitiba. O professor é um português de altura baixa e sem cabelos que inspirou a nossa Constituição, aliás, seu discurso foi antes da palestra do então juiz Sérgio Moro. O Professor Canotilho por algumas horas tentou definir o conceito de liberdade, o mesmo afirmou que liberdade é vista de maneiras diferentes a cada olhar. Para o professor, a falta de liberdade foi manifestada de forma mais clara quando ele viu seu irmão sendo preso na sala da família pela ditadura militar portuguesa.
Parece-me que há alguma espécie de necessidade de controle em nossas vidas. Liberdade demais traz o vazio, e é nesse vazio que líderes oportunistas manifestam sua glória.
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