Marina Melz
Jornalista
Entre o início e o fim de qualquer coisa, entre a segunda e a sexta-feira, entre o almoço e o fim do expediente. Existe o meio. Até para Drummond, tinha uma pedra que não estava no início nem no fim. Estava bem lá, você sabe, no meio do caminho.
Temos mania de ignorar essa parte do processo. Iniciamos pensando no fim, no término, relembramos com o carinho o começo. De onde veio a ideia, quando assinamos o contrato, no momento em que o primeiro tijolo foi colocado.
Mas não existe obra que seja entregue sem o transtorno da quebradeira, TCC entregue sem o cansaço da pesquisa, emagrecimento sem a preguiça da academia (e a vontade de uma caixa inteira de chocolate). Ao visitar a Cordilheira dos Andes, não nos preocupamos em como chegaremos a uma altitude daquelas – descobrimos só lá que o meio do caminho inclui inúmeras curvas de 180 graus.
É no meio de qualquer decisão, ação e história que chega a dúvida. No início, a adrenalina do start inebria toda a insegurança. No fim, a proximidade da chegada anula o cansaço dos últimos passos. Mas é no meio que se questiona as escolhas, que se repensa se a vontade maior é de chegar ao fim ou retornar ao início.
Também é no meio que dá vontade de desistir. Mas como a distância entre o início e o fim é a mesma, o cansaço te impede de tomar qualquer decisão e, de repente, você já está mais pra lá do que pra cá e a empolgação volta.
Estamos sempre no meio do caminho entre a realidade e algum sonho. Sempre existe algo que exige um próximo passo para deslanchar, que está buscando mais do que achamos que conseguimos entregar porque subestimamos o meio. E é sempre tempo de dar esse passo e deixar esse lugar pra trás. Aquele onde Drummond disse que havia uma pedra.
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