Aroldo Bernhardt
professor
Max Weber analisava a realidade a partir de “tipos ideais” úteis à interpretação da sociedade. Para ele cada dimensão da vida humana associada implicava numa racionalidade própria. À política corresponderia a razão substantiva ou dos valores (wertrationalität), enquanto que na economia se exercitaria a razão objetiva (zweckrationalität) ou o “cálculo utilitário de consequências” (em Guerreiro Ramos).
A realidade e o pragmatismo, entretanto, negaram os tipos ideais. Logo a política foi sendo percebida como um autêntico “balcão de negócios” e o mundo reduzido a um imensurável mercado, açambarcando tudo e todos. Até o tempo “virou dinheiro”.
Por isso, entre outras múltiplas causas, economia e política, tal qual gêmeas xifópagas, compartilham órgãos vitais. Se uma entre em crise, imediatamente a outra se recente. É o caso da atual momento que vive o nosso Brasil.
Governo reeleito, a oposição se lançou a contestar o resultado das urnas. Tentativas frustradas foram substituídas por outras táticas para deixar o governo “nas cordas”. Pautas bombas, tentativas de anulação das eleições, de impeachment e incentivo à renúncia.
Tudo devidamente reverberado na mídia consorte, com o propósito de buscar o apoio “das ruas”.
Por outro lado, o combate à corrupção, ao estender a punição às empresas (grandes empreiteiras, por exemplo), transcendeu à justiça, ultrapassou a política e atingiu a economia, em cheio. Há quem diga que cerca de 2,5% do PIB se contraiu em função disso.
E há outro ingrediente – a seletividade das ações policiais e judiciárias. E há, evidentemente, o republicanismo ingênuo do governo.
Acrescente-se a esse caldo uma questão cultural – a sociedade segmentada em classes (com os preconceitos decorrentes e de todos os lados) e temos uma significativa parcela propensa a aderir ao movimento conspiratório. Não percebem a correlação da política com a economia, embora sintam a crise no seu cotidiano.
Enfim, a quem interesse a crise interminável? Quem tem condições econômicas de suportar esse prolongamento?
Certamente não é o povo, nem muitos dos que inocentemente se transformam em “massa de manobra”.
Estamos assistindo uma reprise.
Como sempre o Prof. Bernhardt acha as palavras corretas para explicar o que está acontecendo. Um golpe daqueles que não aceitaram o resultado das urnas.