Democracia é igual saúde. A gente só sente falta quando ela não está presente. Quando um país se encontra em ordem democrática, os problemas são tão grandes que a democracia fica lá no canto, escondida e pouco falada. Porém, quando um show de horrores é descortinado em nossa frente pelo presidente do país, o medo domina porque sabemos que a democracia brasileira está com as bermudas frouxas.
Clara como a luz do sol que as instituições possuem problemas e os problemas podem ser questionados, deve-se saber que namorar o fechamento do congresso e do STF é flertar com a proibição das liberdades. Pergunto todos os dias antes de dormir: onde erramos? Por que entregamos o poder para a violência e para a truculência? Se há algum fio de coerência nesta minha última pergunta, justifico ela por acreditar que houve um erro no processo democrático. Erramos, todos nós. Os democratas vencedores menosprezaram os autoritários e deixaram um fio desencapado. A raiva induzida para parte da população foi iniciada pela falta de representatividade política. A falta de representatividade gera os delírios e devaneios golpistas. Sabe-se que a população nunca se sentiu representada e acha que um golpe resolve o problema. É uma suposição simplista a minha, verdade, mas sabe-se que o futuro do país sempre foi decidido pelas elites. O movimento das “diretas já” não foi aprovado pelo congresso e a república foi declarada pela elites políticas da época. Gargarella afirma que na América Latina, historicamente as pessoas foram deixadas do lado de fora da sala de máquinas onde se produz o poder.
Então sim, entende-se o sentimento de parte da população sobre nunca se sentir verdadeiramente representada. Porém, não é um golpe contra as instituições que resolverá o problema. Ao contrário, o golpe apenas restringirá ainda mais a participação popular. É necessário exigir mais participação e mais democracia. O fechamento das instituições não é a solução, é o problema. Erramos sim, mas ocorreram mais conquistas na democracia do que na ditadura. Ocorreram mais conquistas com o congresso funcionando normalmente do que com o congresso fechado.
A situação do Brasil de hoje serve para nós nunca nos esquecermos que, por mais que tenhamos problemas sociais, a democracia deve ser o presente e o futuro da nação. Não pode ser considerado nenhum flerte com o autoritarismo. O sentimento de medo pela perda da liberdade é um sentimento único e inenarrável. Que este medo sirva de lição para sempre valorizamos a democracia.
Recentemente um tal presidente afirmou que ele seria a constituição. O presidente não deve saber que quando o rei da França declarou “eu sou o estado” foi gerada a revolução francesa e um país foi inundado com palavras de ordem como: fraternidade, igualdade e liberdade. Se a insânia dos golpistas tupiniquins foi firmada em alto e bom som, a reação dos democratas precisa ser da mesma forma. Basta de reações no twitter. Democratas do Brasil, uni-vos.
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