A demissão de Sérgio Moro é o começo do fim do Governo Bolsonaro. É que a saída de Moro produz um desgaste político irreversível do Presidente Jair Bolsonaro. Além disso, em pronunciamento acusou diretamente o presidente de interferir politicamente na atuação da Polícia Federal. Assim, por um lado, a popularidade do Presidente Bolsonaro cai ainda mais junto à opinião pública; e, por outro, perde apoio político no congresso. Mas, sobretudo, revela que o presidente tem muito a esconder: que a melhor forma de combater a corrupção é não investigar ninguém! Portanto, a questão agora é apenas saber quanto demora o fim?
O surgimento do Bolsonarismo é um acidente político espetacular. A candidatura de Jair Bolsonaro a presidência da república em 2018 foi uma aposta familiar. Numa conjuntura extremamente instável e com o impulso das mídias sociais a ideia era a seguinte: Jair Bolsonaro se lançaria a presidente por um partido de aluguel, elegeria seus filhos, mais alguns deputados, tomaria conta de um partido e viveria de administrar o fundo partidário. Mas, aí veio a facada, o crescimento da Candidatura de Haddad… E o Deputado Jair Messias Bolsonaro acabou se elegendo presidente da república sem programa de governo, sem partido e, sobretudo, sem saber o que fazer.
O presidente Bolsonaro sempre testou os limites não somente do poder, mas, sobretudo, do bom senso. Afinal, não podemos esquecer que o histórico de ingerência e intervenção do Presidente Jair Bolsonaro é grande: IBAMA, ICMBIO, INPE, CAPES, PGR, IMETRO… A lista de mandonismo é verdadeiramente grande. Afinal, basta lembrar que em plena COVID-19 apostou contra o Distanciamento Social e demitiu o ministro da saúde! E o caso da PF se transformou em comoção nacional apenas pela envergadura publica de Moro. Por isto, a saída reflete a intensificação da política de política da destruição praticado pelo Bolsonarismo.
A farsa moralista do combate a corrupção do Presidente Jair Bolsonaro durou até o Queiróz aparecer. Daí para frente todas ações foram apenas tentar blindar as investigações para proteger o clã familiar. Atualmente o presidente se sente ainda mais acuado devido as investigações dos vínculos do 01 com as milícias e do 03 com a rede de Fake News. Por isto, a esta altura do processo o presidente parece não se importar mais com nada. Afinal, todas suas ações parecem apenas tentativas desesperadas de proteger a família de investigações. Isto indica que apenas o desespero pode explicar a intervenção do Presidente Bolsonaro na Polícia Federal.
Para tentar reverter o desgaste da imagem do Governo Bolsonaro a máquina de demonização Bolsonarista irá atacar Moro. Porém isto não será suficiente para sustentar o governo. Com a saída de Moro o Bolsonarismo se reduz as alas ideológica e militar. O problema é que as duas alas são incompatíveis politicamente. Neste contexto, é muito difícil do Presidente Jair Bolsonaro resistir até 2022. Afinal, acreditando no efeito polarizador da conexão direta com seu núcleo duro de eleitores o presidente fechou todos os canais institucionais. Por isto, na atual conjuntura existem dois sentidos de continuidade: a) Saída Longa: impeachment; b) Saída curta: renúncia.
- Saída longa: os elementos para o impeachment estão todos postos: situação econômica deteriorada, falta de respaldo político no Congresso, mobilização popular crescentes e, agora, um fato jurídico. Entrincheirado nas alas ideológicas e militar o Governo Bolsonaro vai perder progressivamente governabilidade. E, para agravar a situação, existe ainda os efeitos emergentes da gestão temerária da COVID-19. Neste sentido, as condições de saída de Moro são um fator acelerador da crise. Portanto, a única forma do Presidente Jair Bolsonaro evitar o impeachment é se abraçar politicamente a ala fisiológica.
- Saída curta: se o efeito combinado das crises sanitária, econômica e política tornar a situação insustentável não é improvável que o Presidente Jair Bolsonaro renuncie. O aumento da pressão política e perda de popularidade torna o contexto imprevisível. Com as nuvens negras do impeachment no horizonte o campo de manobra política se estreita. Afinal, quando as dificuldades aumentam presidentes acabam fabricando erros consecutivos. Neste sentido, a renuncia dependeria de algum tipo de acordo político com o Congresso e o STF que garanta algum tipo de blindagem política e legal para a família.
Com a saída de Moro quebrou um pilar de sustentação do Governo Bolsonaro. Rachou sua base eleitoral que estava em torno de 25% a 30% do eleitorado. A redução do perímetro político coloca o Governo Bolsonaro em forte pressão. Afinal, deixou o governo diante da necessidade de enfrentar, ao mesmo tempo, crise sanitária e econômica, mas também, agora, a crise política. Neste sentido os desfechos são imprevisíveis. Assim, para tentar sobreviver o presidente vai ter que mudar bruscamente sua relação com o poder. Por um lado, vai depender das trocas fisiológicas com o congresso; por outro, terá que aceitar a tutela militar. É uma jogada de risco…
A saída de Moro demorou muito. Mas quando aconteceu matou o Governo Bolsonaro. É que com a saída de Moro acabou com salvaguarda moral do seu governo. Além disso, aponta para um eventual crime de responsabilidade do presidente. Deixa, assim, o Governo Bolsonaro vulnerável tanto do ponto de vista moral quanto do ponto de vista político. Por isto, de uma forma ou de outra, o importante é que se tire o Presidente Bolsonaro do governo o mais rápido possível. Afinal, não se pode naturalizar a manipulação de investigações para proteção de seu clã familiar. Pois revela que presidente está disposto a tudo para impedir que a verdade venha à tona.
A trajetória da presidência de Jair Bolsonaro é destrutiva. Apesar disso, mantinha o apoio de uma parcela da população. Porém, ao privilegiar os impactos econômicos em detrimentos aos impactos sociais da COVID-19 acabou completamente isolado. Agora, com a demissão de Sérgio Moro acrescenta um fator político a crise sanitária e econômica. A postura do presidente é intolerável e, assim, quanto menos durar, melhor para o Brasil. Afinal, há muito tempo já ultrapassou os limites da decência. O melhor para o Brasil seria que renunciasse, porém, tudo leva crer que o fim vai ser longo… E o rastro de destruição será grande!
E se a saída, não for a saída?!? Dois fatos relevantes e esclarecedores:
1. A quem pertence a atribuição de nomear/exonerar o Diretor-Geral da Polícia Federal?
Segundo a Lei Constitucional, é do Presidente.
E pergunto: acaso um presidente de empresa não poderia exonerar um diretor da empresa??
2. Precisamos saber que o Ministério Público pode, sozinho e sem a ajuda da polícia, investigar crimes. Ou seja, a nomeação de um novo Diretor-Geral da Polícia Federal não teria qualquer poder de barrar investigações contra Bolsonaro, seus filhos ou quem quer que seja. Aliás, o Procurador-Geral da República já pediu a abertura de inquérito contra o Presidente para apurar as denúncias de Moro…
Bolsonaristas estão com Bolsonaro, assim como os petistas estão com Lula. AMBOS usam antolhos. A sorte do restante dos brasileiros, os conscientes, é saber que ambos estão em extinção. Um já está sumido do cenário, o outro está em queda livre!!!