A palavra cultura provém do mesmo vocábulo que culto e cultivar. O que nos remete a idéia de que ter cultura, significa seguir um ritual, ou ainda, um cultivo de determinados hábitos e costumes que tem a capacidade de narrar a História de um povo, ou melhor, a cultura contém em si o sentido originário da religião e da tradição histórica. Contemporaneamente, através da indústria cultural, tudo se tornou objeto de cultura, mas antes de tudo, a cultura ocidental vem se relativizando e tendo seus objetos cultuados profanizados. Cultuamos os livros, os líderes, as personalidades que indicaram ou revolucionaram os costumes da civilização. Todavia, a cultura sempre esteve ligada ao transcendente, um empreendimento com caráter religioso. Atacar a cultura é antes de tudo agredir a religião de um povo. Mas, surge um fenômeno contemporâneo que agride a concepção originária da cultura no ocidente e que se autodenomina como sendo anticolonialismo.
Recentemente, contadores da História, afirmam que Kant “defendeu ou justificou o colonialismo europeu”. Antes de nos perguntarmos se Kant teria defendido tal tese, o que devemos nos indagar é: qual a intenção destes grupos em desejar desarticular a tradição filosófica no ocidente? Podemos argumentar e constatar a total ignorância do autor desta tese em relação a Kant e citar, desde a Metafísica dos Costumes à Paz Perpétua, para demonstrar que esta tese carece de valor argumentativo. Mas, o que me preocupa é: qual a intenção destes grupos que sistematicamente buscam acusar a tradição do ocidente como racista?
Penso que seja o silenciamento de uma tradição que se construiu nos últimos 2500 anos. Os contadores da História estão na busca por um lugar histórico narrativo, deseja impor outra narrativa, cultuarem novos ídolos. Não se está lutando por supostos direitos humanos ou uma sociedade mais igualitária, mas se está religiosamente combatendo uma cultura para ocupar um novo lugar de poder. Estamos diante de uma guerra cultural e religiosa, que deseja silenciar e destruir uma narrativa para impor outra. Na se enganem que estamos diante de um processo dialógico. Pelo contrário, é possível citar alguns exemplos históricos conhecidos, vários momentos, em que se teve a intenção de se redescrever e impor uma nova ordem, por exemplo: Robespierre com a Revolução Francesa, o Novo Homem marxista e o Stalinismo com pelo menos 7,5 milhões de mortos nos Gulags, e ainda, o nazi-facismo e a sua Ciência Histórica da raça ariana.
É importante lembrar que todo sangue e toda glória que escorre nas ruas, antes de tudo é gestado nos gabinetes universitários e de seus intelectuais: “A lição é não se deixar iludir. Se vocês estão dispostos a sacrificar vidas humanas por uma Causa, sigam em frente. Troquem a constituição por uma nova ou façam a antiga funcionar. Digam: “Nós morremos. Agora é isso que queremos”. No momento em que um inimigo é removido em uma guerra, isto cria um vazio, o de desequilíbrio e um novo inimigo se forma. Se você destrói a Esquerda, a tendência é que você se torne a Esquerda; se você destrói a Direita, a tendência é que se torne a Direita. Tudo não passa de mercúrio, de uma gangorra, e grandes homens se deixaram enganar e aprisionar pelas mudanças no equilíbrio”. (Bukowski).
Seja o primeiro a comentar